sexta-feira, 27 de junho de 2008

Vamos descansar

um pouco das preocupações e do trabalho. Vamos à praia, que o miúdo adora, ver o pôr-do-sol. Decorá-lo. Queremos ver muitas vezes o mar. E que as imagens se fixem na retina para aguentar melhor outros Invernos que aí possam vir.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O médico

é exactamente como o descrevem: imponente, impulsivo, impiedoso, pouco ponderado. Em suma: sem papas na língua, um furacão. Cruzou-se com o meu filho na sala de espera e começou logo aí a avaliá-lo. Esperámos uma hora, durante a qual o miúdo se entreteve com as dúzias de brinquedos que por lá havia. Chamou um menino da sala de espera para brincar com ele e lá estiveram a encaixar peças. Depois de sermos chamados, começou logo aos berros que não queria ir para ali, queria ficar na sala a brincar. O médico ocupou-se uns minutos com o portátil, enquanto o pequeno nos chagava, resmungão, para o ajudarmos a manobrar as peças de um jogo. À medida que nos apreciava, sorria. Começou por nos perguntar o que nos preocupava. E nós, sucintos e sinceros, dissémos que íamos em busca de uma segunda opinião, pois o miúdo tinha sido diagnosticado com uma PPD-NOS, há oito meses. O homem, bem ao seu estilo, levantou a voz e disse: "Onde é que este miúdo é autista? Claramente, este menino não tem nada de autista, posso-lhe garantir!". "No tempo que aqui estive, pediu ajuda, fez frases de cinco a seis palavras, comunicou convosco normalmente e fixou o olhar no meu, por vários segundos. Não! Este miúdo tem claramente uma PHDA. Vejam a impulsividade e a energia. Até o cascanço (quando nos levantou a mão, depois de contrariado) é um sinal típico de que não consegue controlar bem os impulsos. Ainda assim, é cedo para saber se se atenuará ou vai necessitar de intervenção", disse. (Já tinha conversado com uma mãe, cujo filho tem um percurso muito parecido com o meu e a quem também foi dianosticada uma Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção.) Fez-nos dúzias de perguntas, às quais respondemos com a maior sinceridade. O que nos preocupa: não comer o segundo prato e não contar episódios vividos (a não ser quando lhe é perguntado e, mesmo assim, escasso em pormenores). Não valorizou. Disse que as meninas são mais precoces e a maioria dos rapazes são mais tardios nos relatos. O facto de ter começado a falar tarde também terá influência. Fiz-lhe várias questões sobre os sintomas antigos, mas ele explicou que tudo tinha a ver com o atraso na linguagem, que influenciou tudo o resto, incluindo o facto de nos usar como ferramentas. Aconselhou uma avaliação pela terapeuta da fala, para ver se é necessário algum empurrão extra. Posteriormente, caso a hiperactividade aumente e haja problemas em casa ou na escola, será necessário levar a cabo uma intervenção terapêutica. Fiquei feliz, não o nego. Muito porque o nosso coração e olhos já nos diziam que o caso do nosso filho era pouco ou nada compatível com uma PEA típica. Admitíamos a possibilidade de alguns traços, mas isso só se verá com o decorrer do tempo, digo eu. Não sei se ele se manterá assim ou se teremos surpresas desagradáveis. Pouco importa. Viveremos um dia de cada vez, com o amor e as técnicas do costume. Se necessário for, vamos a uma terceira opinião, uma quarta, uma quinta. Até ele crescer e se fazer gente grande, altura em que as verdadeiras problemáticas podem emergir, vamos estando atentos. Sempre com os nossos altos e baixos, sempre aprendendo com as mães e pais- coragem que circulam por este blog e na vida. Sempre aqui. Numa ou noutra luta, nesta ou naquela perturbação, mas aqui. *Este texto foi postado às 16h40. Tenho de acertar o relógio do blog.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O sorriso dela

Não sei se é uma forma de defesa contra as incertezas do mundo, mas não acredito em coincidências. Posso até ser louca, mas sempre dei valor aos sinais. Sinais. Recados do universo. Posso inventá-los, mas vejo-os e deixo-me embrenhar neles. Para ter menos medo, para arranjar alguma coerência para este mundo de símbolos incompreensíveis, ídolos mortos e imprevisibilidades quanto ao fim que nos espera. Hoje, no restaurante de sempre, estava um casal de idosos com o filho, que teria, decerto, cinquenta e tal anos ou por aí. O ar pouco firme, desajeitado, o olhar vago e uma cabeça tombada sobre o prato até este ficar totalmente imaculado. Depois começaram os monólogos com o prato. Arrumar os grãos de arroz caídos na mesa, pôr as colheres usadas dentro das chávenas de café. Ordem. Olhei-os distraídamente e pensei como seria ter um filho daquela idade a morar connosco. Não me angustiou muito porque não reflecti sobre isso, desviei os pensamentos para a minha própria refeição. Todos se levantam para ir embora e o olhar da senhora cruza-se com o meu. Involuntariamente, sorri-lhe. E ela devolveu o sorriso. Palavra de honra, o que eu vi, por segundos, foi uma mulher que parecia 20 anos mais jovem, de olhos profundamente verdes e joviais, num sorriso com covinhas nas bochechas. Não sei se será uma mulher feliz, mas naquele momento pareceu-me. É isso o que mais importa, afinal.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Faltam

dois dias. Dois. E o meu medo maior é que ele não mostre o que realmente é, se lhe der para o mau-humor. Na escola, dizem-me, espontaneamente, que ele é muito expressivo, mostrando exactamente o que sente através da linguagem corporal. E, sem querer, subtraio mais um sintoma. Seja como for, tenho uma profunda alegria pelo meu filho, pelo que ele é. E isso não há diagnóstico que mude. Aqui há dias perguntei-lhe: "De que cor são os olhos da mamã?". "São lindos", respondeu-me ele.

terça-feira, 10 de junho de 2008

O meu pequeno ajudante

Ajuda a estender a roupa, a pôr as compras de supermercado no "tapete" rolante e, se me vê a lavar panelas, vai logo buscar um pano para eu limpar. Ontem à noite, queria à força levar uma data de bonecos para a mádica (máquina de lavar).

domingo, 8 de junho de 2008

Mais uma moedinha, mais uma voltinha!

Desta vez um looping na montanha russa. Anda chatinho o meu miúdo. Principalmente nos últimos três dias. A testar limites até ao limite, passo a repetição. E aquela mãozinha anda muito no ar para o meu gosto, quando as coisas não lhe correm de feição. Ontem, doeu-lhe um dente. Por isso, hoje passou a manhã toda a rilhar os dentes, como antes. Ou isso ou a mania voltou. Parece que a redescobriu. Seja como for, não gosto, preocupa-me. Quando vai passear, quer fazer tudo à maneira dele e dá-nos cabo da paciência. Se é contrariado, não pára de resmungar. Tem dormido tarde (demora mais de uma hora adormecer) e acordado cedo (hoje foi às 6h45). Não sei se vem aí um salto no desenvolvimento ou um retrocesso. Dizem que as crianças dão um passo para trás e, depois, dois para a frente. Por isso, andam agitados, nervosos, chatos. Esperemos que seja (só) isso.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Lutas

Fala, canta e nunca está calado nem na hora de dormir. É um tagarela e gostamos dele assim. O desfralde já começou e está a correr bem. Bem, no sentido de já ir fazendo uns chichis no pote. Quando vier o calor andará nuzinho da Silva.

Horrorizada

A maldade humana não tem limites. Estou perfeitamente horrorizada com o abate injustificado de dez garranos em plena paisagem protegida, em Paredes de Coura. A tiro de zagalote. As fotografias deixaram-me exaurida, sugaram-me a boa energia, entristeceram-me. Isso e o triste rapaz que ontem resolveu injectar-se à porta do meu trabalho, dentro do carro, e tombou para o lado durante meia hora. Há pessoas que vivem uma não vida. Deixo-me afectar.

domingo, 1 de junho de 2008

Dúvidas

Alguém viu a reportagem sobre NEE, na Sic? Entre outras considerações, apeteceu-me perguntar à jornalista o seguinte: saberá ela que dos cerca de seis mil professores destacados para as NEE, números pomposos anunciados cinicamente pelo ministério da Educação, a maioria não tem qualquer formação na área? Em relação aos nossos meninos, por exemplo, de que lhes vale alguém que nada percebe sobre autismo?