segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Eles

Os dias correm felizes e cansativos. De tanto espalhafato colocado nos treinos do meu filho, com saltos, palmas e acrobacias, "ohhhh" e "ahh", o miúdo agora quer mostrar-nos tudo e se não lhe damos atenção fica muito sentido. Aponta para tudo, quer que a gente reaja às suas descobertas e aos seus vocábulos. O floor time tem feito maravilhas por ele. Um floor time casual, sem regras, sobretudo pelo trabalho aturado do meu marido, que transforma a suposta "intervenção" em puro lazer. Ele sabe brincar muito melhor do que eu. Os resultados têm sido surpreendentes. Para além de já fazer entender as suas necessidades, a partilha de prazer é, para nós, um sinal muito positivo. Responde com "xim" ou "quéio", algo que não fazia há bem pouco tempo atrás. Obviamente, isto implicou algo de muito valioso: nunca o achar incapaz para tal. Insistir e acreditar. Não deixar de fazer só porque acreditamos que ele nunca chegará lá. O pai maça-o muito. Obriga-o a comunicar-se. Aqui entra o tal jogo obstrutivo que eu deixo para ele, pois sou incapaz de aguentar o choro dele.

A nível oral, não lhe falta saber muito mais. Pouco lhe escapa. Sabe mais palavras que a Amália. A ver televisão, está sempre "é o sol", "é a lua", "é o menino", "é a menina", blá, blá, blá. Tem um sentido de humor fabuloso e, verdade seja dita, divertimo-nos imenso juntos. Está numa fase muito gira. Muito companheiro do pai, enquanto eu me dedico um pouco mais à bebé. É muito ternurento e adora que o mimem. Continua a rir-se quando nos vê a fingir tristeza, mas dá imensos beijos se o pai se estende no chão a fazer-se de desmaiado. Como sempre, há falhas. E estas têm a ver com a ausência de respostas a perguntas mais elaboradas: "Está frio não está?", "O que comeste hoje?", "O que fizeste?". Nada... Não há respostas. Simplesmente, ignora as questões. Também se zanga imenso quando é contrariado e pouco lhe importam as explicações. Assim como assim, a julgar pelas diferenças abissais desde uns meses a esta parte, vou continuar a acreditar que ele chegará lá. E se não chegar, paciência. Com a irmã, foi uma agradável surpresa. Tem gostado mais e mais dela e já se habituou à sua presença. Estou em crer que serão grandes amigos. Estamos numa boa fase e há que aproveitá-la. Não faltarão vales nesta paisagem.

4 comentários:

Anônimo disse...

Isa,

o meu filho faz 20 anos no dia 26 deste mês. Perguntava-lhe o que comeu na escola ao almoço e não me respondia. Fui insistindo calmamente.Repetindo a pergunta vezes sem conta, até que ele começou a responder. Mas nem sempre. Hoje ao jantar disse-me sem lhe perguntar nada o que fizeram na escola e que um professor está arranjar a escola -a televisão. Diz-nos o que comeu, ou se vomitou. Diz-nos quem está na sala. Diz-nos muita coisa, há sua maneira, até quando lhe betem, ou algum colega se aleija ou parte os óculos.

Vá devagar e chegará lá.Nunca é como queriamos, mas se olharmos para o passado?!... veremos a tal evolução lenta, passo a passo!

saudações

. disse...

Mário, as suas palavras enchem-me de alento. Não exijo muito do miúdo, quero que ele cresça ao ritmo dele, mas acredito que com um jeitinho nosso eles vão muito mais longe. Obrigada por ter vindo. Isa

Grilinha disse...

Estou certa que não faltarão mesmo vales nessa paisagem...
E por tudo que contas, acho que esse menino enche mesmo uma casa...coisa que tb sinto cá em casa. E é mesmo uma felicidade sentir uma casa cheia, como so uma criança sabe encher.
bjs

. disse...

Grilinha, olá. Já fui conhecer o teu blog e gostei imenso. Uma luta incansável que se traduz num menino feliz e sempre, sempre a superar limites. Já vi que és uma mulher de desafios. O teu menino teve sorte. E tu também por teres o JP, um menino incansável que herdou da mãe a capacidade de nunca desistir. O meu filho também é feliz. Muito. E meigo. Enche, de facto, uma casa. Se ele tem, de facto, traços autistas, há que rever toda a forma como o senso comum vê o autismo. Os Asperger leves, àparte algumas inabilidades sociais, são miúdos normais. Com as suas brincadeiras e palermices. O mesmo se passa com a paralisia cerebral. Muita gente não sabe que cada caso é um caso e enfia-se tudo no mesmo saco. Muitos pais desistem por isso. Muito cidadão comum rotula por isso. E não há nada mais deficiente do que um rótulo errado. Um beijinho. Isa