segunda-feira, 26 de maio de 2008

Dias sim

Porque também os há, felizmente. A cada dia que passa, uma coisinha ali, outra acolá e vão-se atenuando as fragilidades que julgava ver nele. Nestes últimos dias, deu-se um novo salto na comunicação e já nos conta pequenos episódios, que resultam em gargalhadas da nossa parte, visto ser ainda um pouco trapalhão no processo. Não há nada que não perceba, cumpre e dá ordens (lol), diz o que quer comer e fazer e começa a revelar um sentido de humor apurado. Como tivemos muitas visitas durante o fim-de-semana, foi possível vê-lo a socializar em contexto de espaço pequeno. Num sítio onde era difícil disperar-se noutras actividades. E socializou. Normalmente. É até um pouco mais simpático do que a maioria das crianças, se for com a cara da pessoa. Não simpatiza com todos, como é lógico, e a esses pouco liga. Mas no cômputo geral, porta-se normalmente, brinca e diz algumas parvoíces típicas da idade.

Começa a ser também muito manipulador e inventa mil estratagemas para não ter de fazer algo que não quer, incluindo chamar a plenos pulmões pela avó, uma vez que a mamã não coopera nas fugidas ao banho ou às mudanças de fralda. Quando faz ou diz alguma palermice que meta piada, repete-a porque sabe o efeito que tem nas pessoas. Está a ficar palerma e isso deixa-me muito contente. Porque ser palerma é o que se espera desta fase de desenvolvimento.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

um mês

Falta um mês. Para tudo e para coisa nenhuma. Uma consulta. Mais uma. Quero estar sossegada, mas suam-me as palmas das mãos como da primeira vez. Não raciocino, não sou objectiva, tenho dias de descrença, outros de grande esperança. Na escola, nada vêem de anormal, mas também é costume que nada vejam, nesta fase. Com as palavras, veio a socialização com os colegas, os jogos da apanhada, os risos conjuntos. Mas chegará? E aquela sensação de que é mais bebé do que os meninos da idade dele? Não é tão pateta e as gracinhas que faz não têm o intuito de nos fazer rir. Seria suposto que assim fosse, com esta idade. Suponho que sim. Rimo-nos juntos de muita coisa, no entanto. Pede desculpa quando faz asneira, de beiçola esticada e só sossega quando vê o sorriso devolvido. Restabelece-se a paz. Ele quer ser perdoado. "Culpa mãe". "Estás desculpado, meu filho, dá cá um beijinho". Também não falha os "santinho!" e os "Com licença". Continua a gostar de histórias e de cantar. Fica muito aflito quando os bonecos caem e se magoam, nos desenhos animados.

No parque, já gostou mais das opções. Agora reluta em andar de escorrega, tem medo. Anda em escorregas mais pequenos que lhes pareçam seguros. Será medroso? Será da PEA? Será? Será? Será o quê? Que importa? Esperam-nos tantas caminhadas, tantos dias sim, tantos dias não, tantos porquês. Uma outra opinião, no fundo, no fundo, de nada servirá. Só mais tarde, um pouco mais tarde, com o crescimento que se impõe e se espera em cada estádio do desenvolvimento, aí se verá. Se é inábil, se sabe fazer amigos, se tem défice disto e daquilo. Não liga muito à irmã, julgo que por falta de interacção da parte dela, mas, muitas vezes, passa por ela faz-lhes festinhas e dá-lhe beijos nas mãos. Ontem quis que se sentasse ao lado dele, na mesa da "brincadeira". Já chegou a dar-lhe uma chapada, quando o contrariamos. Bateu em quem estava mais à mão. Também já nos levantou a manápula a nós, zangado. Mas é bom que exteriorize, para que lhe possamos pôr travão. Já percebeu que é asneira. Será que vão aumentar estas reacções? Vão subir de tom? Para já, pouco há nele de verdadeiramente agressivo. Não me parece hipersensível a coisa nenhuma. Nem ao som, nem à luz. Às texturas, sim, da comida. Tem nojo de coisas molhadas, portanto a melhor invenção foram aqueles nuggets de frango que se comem num pauzinho de gelado. Mas de chocolate não tem nojo, por mais que se derreta. Nem de palmiers cobertos de creme, nem dos chupas a que chama "reais".

Já faz frases mais completas, com muitas palavrinhas, mas não "conversa" grande coisa. O mesmo de sempre. Não é curioso e ainda nada pergunta sobre o porquê das coisas. Pergunta onde está A, B ou C, sabe bem o que quer e sabe partilhá-lo. Será cedo? Será? Com o aperfeiçoamento da linguagem virá o resto? Limita-se ao que está a viver e descreve-o. Sabe que ao sábado é dia de ir ao café e ao parque e pede, pede, pede. Não são rotinas, são hábitos. Não é patológico, são gostos. Vou esperar. Esperar, esperar, esperar. Esperar o quê? Nada. A bem da verdade, não há muito a esperar. Se tiver as limitações, não são os veredictos dos outros que vão mudar grande coisa. Vou esperar sim. Que ele cresça. Para já, o meu coração de mãe anda baralhado.

domingo, 11 de maio de 2008

Attwood

Ler o livro "A Síndrome de Asperger" foi, para mim, uma experiência avassaladora. Li-o em poucas horas. Mesmo sabendo alguma coisa sobre o problema, não tinha ainda a percepção da dimensão que o desencaixe dos SA pode tomar. A primeira coisa que consigo perguntar é: ensinar-lhes como reagir, falar, ser, chorar, etc, não implica que lhes estejamos a impingir aquilo que nós somos, anulando a sua individualidade? O facto de não saberem pôr em prática a sua forma de ser, não quer dizer que não a tenham. Até que ponto ensiná-los até a decorar o que dizer em determinadas circunstâncias lhes aponta uma vida mais normalizada? Como se sentirão ao serem programados? Bem, mal? Attwood fala de uma "cura" social a partir dos 30 anos, altura em que os SA já não se preocupam tanto em ser diferentes e também se diluem mais facilmente em sociedade, mas, e até lá? Será mesmo assim? A cura para os SA é guiá-los pela vida e pela complexidade social, mas nunca lhes evitaremos o sofrimento de "não ser". Nunca se lhes tirará o peso atroz de nascer e viver num mundo que não entendem, com gente que não entendem. Por mais que façamos, nunca conseguiremos prever tudo e ensinar-lhes tudo. Não é sequer esse o objectivo. A meta é minimizar o impacto, automatizá-los. Porque não um chip cerebral?

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O meu amor

-Mamã, sentaí aqui. Mamã, acorda!. Mamã, deita aqui (ao pé dele)! Mamã, ajuda!

-Ontem não queria entrar no banho. Metemo-lo na banheira e ele :"Papá, quéio xixi. Colo!". (Mentiroso. Não queria nada fazer xixi, queria era sair da banheira). LOL.

-Pergunta muitas vezes onde está o cão e o gato que ouve lá no bairro. Quando lhe digo que estão nas casas deles, farta-se de rir. À noite, já na cama, pergunta-me pelos amigos do infantário e nova sessão de gargalhadas quando lhe digo repetidamente "está a dormir", "está a dormir".


-Faz associações que nós próprios já tinhamos esquecido. Na casa da bisavó, costuma brincar com umas bonecas russas. Ontem, viu um imãn de frigorífico com uma matriosca e disse: "Boneca da avó Guida!"

- Acha que os peixinhos voam dentro de água.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Pequenos truques

que connosco funcionam. Quando quero que ele faça algo ou venha até ao pé de mim, ou para comer vestir ou dormir.

Digo-lhe:

- Pedro, anda aqui já! Vou contar até três. UM, DOIS, DOIS E MEIO... (e ele aqui começa a repetir "dois e meio... dois e meio...", ansioso que eu diga o três).

Como eu não o digo até ele fazer o que lhe peço, ele desiste, vem a correr para me obedecer e diz "TRÊSSSSSSSSSSSS".



Coisas tão simples.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Também nós, os ditos normais

temos direito às nossas verdades um pouco inconvenientes. Os blogs de crianças como as nossas não são babyblogs ou blogs de poemas. Se nestes últimos, podemos passar e comentar sem esperar uma palavra em troca, aqui não será bem assim. É a minha firme convicção. A rede de blogs de meninos diferentes são espaços de partilha. Não são diários de proezas e dentinhos, são trocas e apoios. Portanto, de cada vez que vou a um blog deixar uma palavra e ninguém me responde, sinto que não fui lá fazer nada a não ser incomodar. E se faço perguntas e obtenho o nada, pior ainda. Sejamos sinceros. Se houver quem não queira visitas, é favor avisar. Sem qualquer problema.

domingo, 4 de maio de 2008

Gostos musicais

Começo a cantar "o meu chapéu tem três bicos" e ele diz: "Não qués! Não quéio dúmica de de de chapéu di bicos!! Quéio dúmica dê Mirmo!". Risada total, a nossa, que ele ficou à espera que eu desse a primeira nota para começar a cantoria. "Diz-me, diz-me, diz-me puquê, puquê? (...)".

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Já se podem chamar recordações

O meu menino começou a dizer os primeiros vocábulos, com uns PECS improvisados, nada mais nada menos que umas cartas com figuras que vinham agarradas aos iogurtes Mimosa. Com o cartão ao lado da boca, íamos mostrando a imagem e insistindo no nome das coisas. Primeiro aprendeu a imitar o som dos animais, pouco depois a saber o seu nome. Não tardou a saber que som respeitava a que animal. Foi o início de um curto percurso que nos trouxe até aqui, a este mar de palavrinhas em aperfeiçoamento.

Passaram seis meses. Actualmente diz frases de três palavras, contextualizadas. O pai pede-lhe um beijo e ele diz, muito senhor de si: Não quero barba! (porque pica. LOL). Há tantos exemplos: "A minha mãe é inda". "Sapatos mamã, calçaí!!!". Muitas vezes troca a sequência das frases, mas faz-se entender. E tem palavras difíceis que diz perfeitamente. Os "érres" por exemplo já os diz direitinho há uns meses. Quanto não consegue fazer as ligações entre as palavras- chave, diz "de de de" pelo meio. Exemplifico: "Malena bate de de de de meninos!!!". E faz isto tantas e tantas vezes quando está a tentar contar alguma coisa. Outra das coisas em que mudou radicalmente é a capacidade de levar e trazer recados. E a mensagem chega mesmo ao destino.