quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A todos

os que me acompanharam até aqui, queria convidá-los a visitarem este blog

www.obarulhodacascata.blogspot.com

É meu, sempre foi meu. Desde que o meu filho tinha quatro meses. Por muito tempo, vivi estas duas partes da mesma vida. Sem mentiras ou desonestidades. Ontem, enganei-me e comentei na LuísaB com o nick do referido blog. Tentei remendar com uma mentira auto- piedosa. Depois pensei. Para quê? Não faz sentido já. É um orgulho ser quem sou. Foi um orgulho conhecê-los a todos. Gostaria de pensar que um dia nos vamos conhecer pessoalmente.

sábado, 13 de setembro de 2008

Não desaparecemos

e voltaremos em breve. Uk beijo a quem por aqui passa. Gostava de saber de cada um de vocês.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Não vou mentir

Estou muito mais sossegada. Estou feliz. Só tenho a gozar esta felicidade, sem pensar muito no futuro. Ou melhor, pensando no futuro, mas não vivendo em função do amanhã. Estou sossegada muito mais pelo que vejo do que pelo teor do segundo diagnóstico feito ao meu filho. Ao nível da linguagem, fora algumas atrapalhações, está óptimo. Já diz os "L" e os "R" entre palavras e começa a conversar como gente grande, um menino vivaço e tagarela, que adora histórias, cantorias e palhaçadas. Inventa músicas e agora anda numa de "espancamentos" entre bonecos, com "socos" para aqui e lambadas para acolá. Faz rampas para os carrinhos escorregarem e cuida dos bonecos como eu cuido da mana. Com um cuidado tremendo a deitá-los, a afagá-los ou fingir o beijinho de boa noite.

Se em casa, oscila entre os beijos espontâneos à mana e a relativa indiferença, na escola que ambos frequentam, preocupa-se com ela, quer saber para onde vai e sempre que me venho embora, faz questão de me lembrar "Leva a mana!!", Como se eu fosse esquecer-me. LOLL. No desenho, apesar de segurar as canetas e lápis de cor ainda de uma forma bem rudimentar, já pinta dentro das linhas e já põe braços e pernas aos bonecos. Gosta que o pai desenhe as cabeças para ele desenhar os sentimentos. "A rir"!, a "chorar" e por aí em diante.

Já acusa quem lhe bate e quem o chateia e é capaz de levar recados na perfeição. Vai buscar os biberons da mana e pôr as fraldas no lixo. No desfralde, só houve dois descuidos desde que começámos. Vai buscar o pote ou pede-o, faz o seu chichi e vem mostrá-lo todo orgulhoso. Ontem, não bastou mostrá-lo ao pai, quis que eu visse também para lhe dar o beijo da "praxe". Sabe que é importante para nós e aprecia a leveza de umas cuecas, nestes dias de calor. Ao sábado, mal sai de casa, começa logo a pedir para ir ao café e ao parque. Começam a abundar as perguntas curiosas "Que é isto", Que é aquilo?" e tem perfeita noção quando um de nós se ausenta, procurando de todas as formas saber onde está a mãe, o pai, a tia.

Na conversação propriamente dita, está substancialmente melhor. "Vens, mamã?", "Ajudas-me?", "Olha para mim!". Conta pequenas coisas, sem grande floreado mas ansiando por uma resposta. Na interacção, tenho estado muito atenta. Embora às vezes seja abrutalhado, entabula conversas com os meninos no parque e quer brincar com eles. Mais do que quere, consegue. "Olha o papá daquele menino!"."Menino, menino, onde está o menino?", dizia, ontem, enquanto esperava que o parceiro de brincadeiras se aproximasse para uma nova descida no escorrega. É curioso e atento e se alguma vez não prendeu o olhar por tempo suficiente, essa realidade está longe da actual.

As principais preocupações continuam a ser a comida. Sei que há muitos miúdos assim, mas não percebo os seus critérios de selecção. Não diz não a qualquer guloseima que seja, se lha oferecerem, mas na comida propriamente dita reluta sequer em tocar-lhe. É capaz de descascar e comer sozinho um amendoim e não querer tocar numa banana descascada. Tem de comer a fruta de boião e essa não a recusa. Nem a sopa que come religiosamente desde que começou a diversificação alimentar, aos seis meses. Mas não enjoa, credo? Sei que não lhe faltam as proteínas e as vitaminas, pela quantidade de legumes, leguminosas, massa, mas não sairá a mamã e ao papá, bons garfos?

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Vamos descansar

um pouco das preocupações e do trabalho. Vamos à praia, que o miúdo adora, ver o pôr-do-sol. Decorá-lo. Queremos ver muitas vezes o mar. E que as imagens se fixem na retina para aguentar melhor outros Invernos que aí possam vir.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O médico

é exactamente como o descrevem: imponente, impulsivo, impiedoso, pouco ponderado. Em suma: sem papas na língua, um furacão. Cruzou-se com o meu filho na sala de espera e começou logo aí a avaliá-lo. Esperámos uma hora, durante a qual o miúdo se entreteve com as dúzias de brinquedos que por lá havia. Chamou um menino da sala de espera para brincar com ele e lá estiveram a encaixar peças. Depois de sermos chamados, começou logo aos berros que não queria ir para ali, queria ficar na sala a brincar. O médico ocupou-se uns minutos com o portátil, enquanto o pequeno nos chagava, resmungão, para o ajudarmos a manobrar as peças de um jogo. À medida que nos apreciava, sorria. Começou por nos perguntar o que nos preocupava. E nós, sucintos e sinceros, dissémos que íamos em busca de uma segunda opinião, pois o miúdo tinha sido diagnosticado com uma PPD-NOS, há oito meses. O homem, bem ao seu estilo, levantou a voz e disse: "Onde é que este miúdo é autista? Claramente, este menino não tem nada de autista, posso-lhe garantir!". "No tempo que aqui estive, pediu ajuda, fez frases de cinco a seis palavras, comunicou convosco normalmente e fixou o olhar no meu, por vários segundos. Não! Este miúdo tem claramente uma PHDA. Vejam a impulsividade e a energia. Até o cascanço (quando nos levantou a mão, depois de contrariado) é um sinal típico de que não consegue controlar bem os impulsos. Ainda assim, é cedo para saber se se atenuará ou vai necessitar de intervenção", disse. (Já tinha conversado com uma mãe, cujo filho tem um percurso muito parecido com o meu e a quem também foi dianosticada uma Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção.) Fez-nos dúzias de perguntas, às quais respondemos com a maior sinceridade. O que nos preocupa: não comer o segundo prato e não contar episódios vividos (a não ser quando lhe é perguntado e, mesmo assim, escasso em pormenores). Não valorizou. Disse que as meninas são mais precoces e a maioria dos rapazes são mais tardios nos relatos. O facto de ter começado a falar tarde também terá influência. Fiz-lhe várias questões sobre os sintomas antigos, mas ele explicou que tudo tinha a ver com o atraso na linguagem, que influenciou tudo o resto, incluindo o facto de nos usar como ferramentas. Aconselhou uma avaliação pela terapeuta da fala, para ver se é necessário algum empurrão extra. Posteriormente, caso a hiperactividade aumente e haja problemas em casa ou na escola, será necessário levar a cabo uma intervenção terapêutica. Fiquei feliz, não o nego. Muito porque o nosso coração e olhos já nos diziam que o caso do nosso filho era pouco ou nada compatível com uma PEA típica. Admitíamos a possibilidade de alguns traços, mas isso só se verá com o decorrer do tempo, digo eu. Não sei se ele se manterá assim ou se teremos surpresas desagradáveis. Pouco importa. Viveremos um dia de cada vez, com o amor e as técnicas do costume. Se necessário for, vamos a uma terceira opinião, uma quarta, uma quinta. Até ele crescer e se fazer gente grande, altura em que as verdadeiras problemáticas podem emergir, vamos estando atentos. Sempre com os nossos altos e baixos, sempre aprendendo com as mães e pais- coragem que circulam por este blog e na vida. Sempre aqui. Numa ou noutra luta, nesta ou naquela perturbação, mas aqui. *Este texto foi postado às 16h40. Tenho de acertar o relógio do blog.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O sorriso dela

Não sei se é uma forma de defesa contra as incertezas do mundo, mas não acredito em coincidências. Posso até ser louca, mas sempre dei valor aos sinais. Sinais. Recados do universo. Posso inventá-los, mas vejo-os e deixo-me embrenhar neles. Para ter menos medo, para arranjar alguma coerência para este mundo de símbolos incompreensíveis, ídolos mortos e imprevisibilidades quanto ao fim que nos espera. Hoje, no restaurante de sempre, estava um casal de idosos com o filho, que teria, decerto, cinquenta e tal anos ou por aí. O ar pouco firme, desajeitado, o olhar vago e uma cabeça tombada sobre o prato até este ficar totalmente imaculado. Depois começaram os monólogos com o prato. Arrumar os grãos de arroz caídos na mesa, pôr as colheres usadas dentro das chávenas de café. Ordem. Olhei-os distraídamente e pensei como seria ter um filho daquela idade a morar connosco. Não me angustiou muito porque não reflecti sobre isso, desviei os pensamentos para a minha própria refeição. Todos se levantam para ir embora e o olhar da senhora cruza-se com o meu. Involuntariamente, sorri-lhe. E ela devolveu o sorriso. Palavra de honra, o que eu vi, por segundos, foi uma mulher que parecia 20 anos mais jovem, de olhos profundamente verdes e joviais, num sorriso com covinhas nas bochechas. Não sei se será uma mulher feliz, mas naquele momento pareceu-me. É isso o que mais importa, afinal.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Faltam

dois dias. Dois. E o meu medo maior é que ele não mostre o que realmente é, se lhe der para o mau-humor. Na escola, dizem-me, espontaneamente, que ele é muito expressivo, mostrando exactamente o que sente através da linguagem corporal. E, sem querer, subtraio mais um sintoma. Seja como for, tenho uma profunda alegria pelo meu filho, pelo que ele é. E isso não há diagnóstico que mude. Aqui há dias perguntei-lhe: "De que cor são os olhos da mamã?". "São lindos", respondeu-me ele.

terça-feira, 10 de junho de 2008

O meu pequeno ajudante

Ajuda a estender a roupa, a pôr as compras de supermercado no "tapete" rolante e, se me vê a lavar panelas, vai logo buscar um pano para eu limpar. Ontem à noite, queria à força levar uma data de bonecos para a mádica (máquina de lavar).

domingo, 8 de junho de 2008

Mais uma moedinha, mais uma voltinha!

Desta vez um looping na montanha russa. Anda chatinho o meu miúdo. Principalmente nos últimos três dias. A testar limites até ao limite, passo a repetição. E aquela mãozinha anda muito no ar para o meu gosto, quando as coisas não lhe correm de feição. Ontem, doeu-lhe um dente. Por isso, hoje passou a manhã toda a rilhar os dentes, como antes. Ou isso ou a mania voltou. Parece que a redescobriu. Seja como for, não gosto, preocupa-me. Quando vai passear, quer fazer tudo à maneira dele e dá-nos cabo da paciência. Se é contrariado, não pára de resmungar. Tem dormido tarde (demora mais de uma hora adormecer) e acordado cedo (hoje foi às 6h45). Não sei se vem aí um salto no desenvolvimento ou um retrocesso. Dizem que as crianças dão um passo para trás e, depois, dois para a frente. Por isso, andam agitados, nervosos, chatos. Esperemos que seja (só) isso.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Lutas

Fala, canta e nunca está calado nem na hora de dormir. É um tagarela e gostamos dele assim. O desfralde já começou e está a correr bem. Bem, no sentido de já ir fazendo uns chichis no pote. Quando vier o calor andará nuzinho da Silva.

Horrorizada

A maldade humana não tem limites. Estou perfeitamente horrorizada com o abate injustificado de dez garranos em plena paisagem protegida, em Paredes de Coura. A tiro de zagalote. As fotografias deixaram-me exaurida, sugaram-me a boa energia, entristeceram-me. Isso e o triste rapaz que ontem resolveu injectar-se à porta do meu trabalho, dentro do carro, e tombou para o lado durante meia hora. Há pessoas que vivem uma não vida. Deixo-me afectar.

domingo, 1 de junho de 2008

Dúvidas

Alguém viu a reportagem sobre NEE, na Sic? Entre outras considerações, apeteceu-me perguntar à jornalista o seguinte: saberá ela que dos cerca de seis mil professores destacados para as NEE, números pomposos anunciados cinicamente pelo ministério da Educação, a maioria não tem qualquer formação na área? Em relação aos nossos meninos, por exemplo, de que lhes vale alguém que nada percebe sobre autismo?

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Dias sim

Porque também os há, felizmente. A cada dia que passa, uma coisinha ali, outra acolá e vão-se atenuando as fragilidades que julgava ver nele. Nestes últimos dias, deu-se um novo salto na comunicação e já nos conta pequenos episódios, que resultam em gargalhadas da nossa parte, visto ser ainda um pouco trapalhão no processo. Não há nada que não perceba, cumpre e dá ordens (lol), diz o que quer comer e fazer e começa a revelar um sentido de humor apurado. Como tivemos muitas visitas durante o fim-de-semana, foi possível vê-lo a socializar em contexto de espaço pequeno. Num sítio onde era difícil disperar-se noutras actividades. E socializou. Normalmente. É até um pouco mais simpático do que a maioria das crianças, se for com a cara da pessoa. Não simpatiza com todos, como é lógico, e a esses pouco liga. Mas no cômputo geral, porta-se normalmente, brinca e diz algumas parvoíces típicas da idade.

Começa a ser também muito manipulador e inventa mil estratagemas para não ter de fazer algo que não quer, incluindo chamar a plenos pulmões pela avó, uma vez que a mamã não coopera nas fugidas ao banho ou às mudanças de fralda. Quando faz ou diz alguma palermice que meta piada, repete-a porque sabe o efeito que tem nas pessoas. Está a ficar palerma e isso deixa-me muito contente. Porque ser palerma é o que se espera desta fase de desenvolvimento.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

um mês

Falta um mês. Para tudo e para coisa nenhuma. Uma consulta. Mais uma. Quero estar sossegada, mas suam-me as palmas das mãos como da primeira vez. Não raciocino, não sou objectiva, tenho dias de descrença, outros de grande esperança. Na escola, nada vêem de anormal, mas também é costume que nada vejam, nesta fase. Com as palavras, veio a socialização com os colegas, os jogos da apanhada, os risos conjuntos. Mas chegará? E aquela sensação de que é mais bebé do que os meninos da idade dele? Não é tão pateta e as gracinhas que faz não têm o intuito de nos fazer rir. Seria suposto que assim fosse, com esta idade. Suponho que sim. Rimo-nos juntos de muita coisa, no entanto. Pede desculpa quando faz asneira, de beiçola esticada e só sossega quando vê o sorriso devolvido. Restabelece-se a paz. Ele quer ser perdoado. "Culpa mãe". "Estás desculpado, meu filho, dá cá um beijinho". Também não falha os "santinho!" e os "Com licença". Continua a gostar de histórias e de cantar. Fica muito aflito quando os bonecos caem e se magoam, nos desenhos animados.

No parque, já gostou mais das opções. Agora reluta em andar de escorrega, tem medo. Anda em escorregas mais pequenos que lhes pareçam seguros. Será medroso? Será da PEA? Será? Será? Será o quê? Que importa? Esperam-nos tantas caminhadas, tantos dias sim, tantos dias não, tantos porquês. Uma outra opinião, no fundo, no fundo, de nada servirá. Só mais tarde, um pouco mais tarde, com o crescimento que se impõe e se espera em cada estádio do desenvolvimento, aí se verá. Se é inábil, se sabe fazer amigos, se tem défice disto e daquilo. Não liga muito à irmã, julgo que por falta de interacção da parte dela, mas, muitas vezes, passa por ela faz-lhes festinhas e dá-lhe beijos nas mãos. Ontem quis que se sentasse ao lado dele, na mesa da "brincadeira". Já chegou a dar-lhe uma chapada, quando o contrariamos. Bateu em quem estava mais à mão. Também já nos levantou a manápula a nós, zangado. Mas é bom que exteriorize, para que lhe possamos pôr travão. Já percebeu que é asneira. Será que vão aumentar estas reacções? Vão subir de tom? Para já, pouco há nele de verdadeiramente agressivo. Não me parece hipersensível a coisa nenhuma. Nem ao som, nem à luz. Às texturas, sim, da comida. Tem nojo de coisas molhadas, portanto a melhor invenção foram aqueles nuggets de frango que se comem num pauzinho de gelado. Mas de chocolate não tem nojo, por mais que se derreta. Nem de palmiers cobertos de creme, nem dos chupas a que chama "reais".

Já faz frases mais completas, com muitas palavrinhas, mas não "conversa" grande coisa. O mesmo de sempre. Não é curioso e ainda nada pergunta sobre o porquê das coisas. Pergunta onde está A, B ou C, sabe bem o que quer e sabe partilhá-lo. Será cedo? Será? Com o aperfeiçoamento da linguagem virá o resto? Limita-se ao que está a viver e descreve-o. Sabe que ao sábado é dia de ir ao café e ao parque e pede, pede, pede. Não são rotinas, são hábitos. Não é patológico, são gostos. Vou esperar. Esperar, esperar, esperar. Esperar o quê? Nada. A bem da verdade, não há muito a esperar. Se tiver as limitações, não são os veredictos dos outros que vão mudar grande coisa. Vou esperar sim. Que ele cresça. Para já, o meu coração de mãe anda baralhado.

domingo, 11 de maio de 2008

Attwood

Ler o livro "A Síndrome de Asperger" foi, para mim, uma experiência avassaladora. Li-o em poucas horas. Mesmo sabendo alguma coisa sobre o problema, não tinha ainda a percepção da dimensão que o desencaixe dos SA pode tomar. A primeira coisa que consigo perguntar é: ensinar-lhes como reagir, falar, ser, chorar, etc, não implica que lhes estejamos a impingir aquilo que nós somos, anulando a sua individualidade? O facto de não saberem pôr em prática a sua forma de ser, não quer dizer que não a tenham. Até que ponto ensiná-los até a decorar o que dizer em determinadas circunstâncias lhes aponta uma vida mais normalizada? Como se sentirão ao serem programados? Bem, mal? Attwood fala de uma "cura" social a partir dos 30 anos, altura em que os SA já não se preocupam tanto em ser diferentes e também se diluem mais facilmente em sociedade, mas, e até lá? Será mesmo assim? A cura para os SA é guiá-los pela vida e pela complexidade social, mas nunca lhes evitaremos o sofrimento de "não ser". Nunca se lhes tirará o peso atroz de nascer e viver num mundo que não entendem, com gente que não entendem. Por mais que façamos, nunca conseguiremos prever tudo e ensinar-lhes tudo. Não é sequer esse o objectivo. A meta é minimizar o impacto, automatizá-los. Porque não um chip cerebral?

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O meu amor

-Mamã, sentaí aqui. Mamã, acorda!. Mamã, deita aqui (ao pé dele)! Mamã, ajuda!

-Ontem não queria entrar no banho. Metemo-lo na banheira e ele :"Papá, quéio xixi. Colo!". (Mentiroso. Não queria nada fazer xixi, queria era sair da banheira). LOL.

-Pergunta muitas vezes onde está o cão e o gato que ouve lá no bairro. Quando lhe digo que estão nas casas deles, farta-se de rir. À noite, já na cama, pergunta-me pelos amigos do infantário e nova sessão de gargalhadas quando lhe digo repetidamente "está a dormir", "está a dormir".


-Faz associações que nós próprios já tinhamos esquecido. Na casa da bisavó, costuma brincar com umas bonecas russas. Ontem, viu um imãn de frigorífico com uma matriosca e disse: "Boneca da avó Guida!"

- Acha que os peixinhos voam dentro de água.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Pequenos truques

que connosco funcionam. Quando quero que ele faça algo ou venha até ao pé de mim, ou para comer vestir ou dormir.

Digo-lhe:

- Pedro, anda aqui já! Vou contar até três. UM, DOIS, DOIS E MEIO... (e ele aqui começa a repetir "dois e meio... dois e meio...", ansioso que eu diga o três).

Como eu não o digo até ele fazer o que lhe peço, ele desiste, vem a correr para me obedecer e diz "TRÊSSSSSSSSSSSS".



Coisas tão simples.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Também nós, os ditos normais

temos direito às nossas verdades um pouco inconvenientes. Os blogs de crianças como as nossas não são babyblogs ou blogs de poemas. Se nestes últimos, podemos passar e comentar sem esperar uma palavra em troca, aqui não será bem assim. É a minha firme convicção. A rede de blogs de meninos diferentes são espaços de partilha. Não são diários de proezas e dentinhos, são trocas e apoios. Portanto, de cada vez que vou a um blog deixar uma palavra e ninguém me responde, sinto que não fui lá fazer nada a não ser incomodar. E se faço perguntas e obtenho o nada, pior ainda. Sejamos sinceros. Se houver quem não queira visitas, é favor avisar. Sem qualquer problema.

domingo, 4 de maio de 2008

Gostos musicais

Começo a cantar "o meu chapéu tem três bicos" e ele diz: "Não qués! Não quéio dúmica de de de chapéu di bicos!! Quéio dúmica dê Mirmo!". Risada total, a nossa, que ele ficou à espera que eu desse a primeira nota para começar a cantoria. "Diz-me, diz-me, diz-me puquê, puquê? (...)".

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Já se podem chamar recordações

O meu menino começou a dizer os primeiros vocábulos, com uns PECS improvisados, nada mais nada menos que umas cartas com figuras que vinham agarradas aos iogurtes Mimosa. Com o cartão ao lado da boca, íamos mostrando a imagem e insistindo no nome das coisas. Primeiro aprendeu a imitar o som dos animais, pouco depois a saber o seu nome. Não tardou a saber que som respeitava a que animal. Foi o início de um curto percurso que nos trouxe até aqui, a este mar de palavrinhas em aperfeiçoamento.

Passaram seis meses. Actualmente diz frases de três palavras, contextualizadas. O pai pede-lhe um beijo e ele diz, muito senhor de si: Não quero barba! (porque pica. LOL). Há tantos exemplos: "A minha mãe é inda". "Sapatos mamã, calçaí!!!". Muitas vezes troca a sequência das frases, mas faz-se entender. E tem palavras difíceis que diz perfeitamente. Os "érres" por exemplo já os diz direitinho há uns meses. Quanto não consegue fazer as ligações entre as palavras- chave, diz "de de de" pelo meio. Exemplifico: "Malena bate de de de de meninos!!!". E faz isto tantas e tantas vezes quando está a tentar contar alguma coisa. Outra das coisas em que mudou radicalmente é a capacidade de levar e trazer recados. E a mensagem chega mesmo ao destino.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Pouco amigo do silêncio

No banco de trás do carro, diz-me muitas vezes:

-Mamã canta! (deve ser dos poucos que me pede para cantar. LOL. Bem, o meu marido também gosta, vá lá. Estou safa!)

- Fala mamã!

Em casa:

Dança mamã! (não é coisa que goste muito de fazer mas por ti, vamos lá!)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Ser

Asperger é muito diferente de ter um ou outro traço a remeter para o autismo. Ou ser simplesmente inadaptado, por uma série de razões. Acho que nesse ponto não há grandes dúvidas, apesar de, meia volta, haver debate sobre o tema. Vim agora do Asper e lembrei-me, por isso, de um episódio elucidativo ocorrido este fim de semana. O familiar do meu marido, a quem já dediquei um texto, tem 33 anos não é Asperger, mas são inegáveis alguns sinais estranhos. O exemplo: em convívio na sala de estar, alguém pergunta que horas são. Prontamente, a mãe da casa responde: São 7 (pm). E ele contrapõe, algo zangado: não são nada 7, são 6h58. A mãe insiste, ironizando: que diferença...! Ele levanta o tom de voz e reafirma: que eu saiba 7 são 7 e 6h58 são 6h58!! Confesso que se não fosse o ar de mau dele, não teria evitado a gargalhada de incredulidade que me apeteceu dar.

domingo, 27 de abril de 2008

Agora

é muito fácil dar por eles. Aquele ar de quem não está cá. Os movimentos rígidos, automatizados. O olhar que se fixa em coisa nenhuma, como se a ver algo que mais ninguém vê. Nunca foi tão fácil identificá-los, apreciá-los no seu mutismo selectivo, na sua aparência etérea. São como um sopro. Um quase. São a presença que ninguém chega a sentir.

sábado, 19 de abril de 2008

Emoções que transbordam

Era suposto voltarmos ao mesmo sítio para uma reavaliação, mas vamos optar por levar o miúdo a outro sítio, para uma segunda opinião. A decisão ganhou força depois de recentes conversas versando experiências de diagnósticos precipitados. Não quero iludir-me nem ofuscar a realidade, mas estou expectante e ansiosa. Talvez caia de muito alto ou se dê um milagre. A vida é feita disso mesmo.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Dizia eu

que ele não era chibo. Ontem, estava eu na sala, ele na cozinha com o pai a comer, ouço uma repreensão. Vem ele todo chateado e diz: xuta, tau tau, chão! As ligações inter- frásicas existiam mas não as consigo reproduzir porque não as percebi. Então, pergunto-lhe: o que foi filho? Levaste tau tau, foi? E ele: xim, xim, tau tau mão. A lamuriar-se. E quem foi que te deu tau tau: O Pêdo! (pai). Também, de vez em quando me diz que "a Malena é feia e má". Ontem perguntei na creche quem era a Malena. É uma menina que acerta o passo aos coleguinhas todos.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Ainda

me lembro bem das viagens infantário-casa e casa- infantário. Sempre tão solitárias. Sentia uma terrível angústia em ir o tempo todo a falar sozinha e a fazer perguntas sem o mínimo retorno. Ali, as árvores estão douradas porque é Outono. Ah, tantas plantinhas. Olha um camião, olha, olha! Será que vai chover? Hoje, é ele quem me diz que é de nôte pois já vê a lua e que ali ao lado é o estádio dos meninos do futebol onde há uma televisão gaande. E vai todo o caminho a cantar e a dizer as suas coisinhas giras.

domingo, 13 de abril de 2008

Para registo

Quando era mais bebé, esfregava os dentes uns nos outros e fazia um barulho impressionante. Fez isto durante meses. E também gemia. Na altura, na consulta da terapia da fala onde pela primeira vez nos vimos confrontados com a possibilidade de uma PEA, a terapeuta achou que também podiam ser sinais. Eu também cheguei a ter esse vício, sobretudo a dormir e, pelo que sei, designa-se de bruxismo ( que nome!) e afecta muita gente. Há até quem tenha de usar uns acessórios de borracha para não desgastar os dentes. Nunca mais o fez. Julgo até que depois da consulta não o fez por mais um mês. De qualquer forma quis registá-lo.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Preciso

de dicas para iniciar o desfralde. :D

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Lindo

O post de André Vilaça, a que chamou "O aniversário do Sr. Carneiro", no blogue O Zapping, cujo endereço está na minha barra lateral, é das coisas mais ternurentas que já li. Vale a pena, pelos espíritos do champanhe e pela amizade validada num abraço tão esperado.

Raciocínio lógico

Lá pela creche do pequenito, educadoras e auxiliares, sem nada saberem da PEA do meu tesouro, têm vibrado com as conquistas dele. É notória a afeição que se traduz em entusiasmo sempre que há um novo obstáculo vencido. Em conversa com o pai, a educadora contou-lhe que deixou dois puzzles em cima da mesa, enquanto foi acudir a uma criança que se tinha magoado. Minutos depois, quando regressou, os puzzles estavam feitos pelo meu filho. Cá em casa, só há pouco tempo o apresentámos aos puzzles, já que antes eram mais encaixes, legos e pares. Brinquedos para 3 anos que o meu filho de 30 meses já domina. É notória também a facilidade com que decora as letras e os números o que, inevitavelmente, me remete para as palavras da mariamartim quando os compara a computadores que armazenam vasta informação. Só com o tempo verei se muito do que aprende lhe será útil na vida social. A educadora, contudo e felizmente, não elogiou só o raciocínio lógico-matemático, que considera um pouquinho avançado para a média. Frisou a evolução noutros níveis, sobretudo no que toca à interacção com outros meninos. Antes, até aos dois anos, o miúdo preferia brincar afastado do resto do grupo, o que já não acontece. E, ressalvou ela, também passou a obedecer a ordens, quando antes as ignorava. Confesso que foram estes dois últimos itens que mais me deixaram feliz. Dos outros, só retenho a confirmação de que não há qualquer atraso mental, o que, obviamente, já foi motivo para festejos numa etapa anterior. Neste momento, sabê-lo cada vez mais integrado e autónomo é música para os meus ouvidos.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Chibo

Devia ter escrito o post de baixo primeiro. Depois da dentada, eu quis à força toda que ele me disesse quem o tinha mordido, apesar de já saber. Perguntei-lhe vezes sem conta: "Quem te mordeu, filho?" , "Quem fez o dói-dói que tens aqui?" Nada de resposta. Olhava-me e continuava a brincar. E eu insistia, já soltando alguma frustração por ele continuar a não responder a coisas básicas que se prendem com os relatos do dia. Em silêncio costumam ficar também as respostas às perguntas "Então, hoje tiveste música? O que comeste na escola? Com quem brincaste". Já ao deitar, antes de lhe contar as "históias" que já pede insistentemente, a derradeira tentativa para que chibasse o agressor: "Quem te mordeu, filho? Foi aaaaaa...". E ele virou-se para mim e respondeu: "Foi a Sofiaaaa". Tive nesse momento a clara percepção de que o segredo, nesta fase, está na maneira como se faz a pergunta.

Bits and bytes

Ontem chegou mordido a casa, abaixo de um olho. A mordidela deve ter sido quase carnívora a julgar pelas marcas roxas. Estava vermelho de ter chorado. As educadoras disseram ao pai que foi uma menina que o trincou violentamente, após a disputa de um brinquedo. Perdoem-me a sinceridade, sei que faz parte do leque de palermices infantis, mas, tivesse eu visto, e a coisa não ficava por ali. Ou ficava, pronto. Mas que eu subia aos arames subia. Sei que há pouco a fazer quanto a esse vício a não ser esperar que passe. Mas enervo-me porque ele não se defende. Lá na creche dizem que ele é meigo e não bate em ninguém. Vou ensiná-lo a devolver mordidelas e chapadas. Para se defender, ponto final, parágrafo.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Sacudir a mosca

Chapadas, taponas, lamparinas, traulitadas, sapatadas. Nestes meninos, sim ou não? Em que circunstâncias?

terça-feira, 25 de março de 2008

Receios

O medo de retrocessos é tanto que o transporto para os sonhos. Esta noite, andava eu orgulhosa do meu menino alegre e conversador quando, de repente, num grupo de pessoas, um dos elementos resolveu meter-se com ele, fazendo-lhe perguntas. O meu filho parou, estático, primeiro de olhar parado, depois a piscar os olhos, enquanto se ouvia o som de uma lâmpada a fundir.

sábado, 22 de março de 2008

Análise caseira

Durante todos estes meses que não vimos dois casais amigos que moram longe, imaginei o reencontro entre os nossos três filhos da mesma idade, temendo diferenças notórias. Os outros dois, além de considerados normais, começaram a dizer as primeiras palavrinhas muitíssimo mais cedo. Tentei olhá-los com imparcialidade milimétrica. O que eu vi, muito honestamente, foi que ambos falam, socializam, riem e brincam menos do que o meu filho. Do primeiro nem uma palavra. Ainda brindou o meu filho com uma sova despropositada porque não quis partilhar os brinquedos que, só por mera coincidência, até eram do meu filho. O meu marido ainda tentou entabular conversa mas foi pura e simplesmente ignorado. A única vez que lhe ouvimos a voz foi para o ouvir dizer o nome, seguido de uma pequena discussão para o ar, de dedo em riste, numa linguagem que ninguém entendeu. Sabemos, no entanto, que no quotidiano se expressa muito melhor. Em contexto social levaria nota zero e um diagnóstico feroz se submetido a testes num ambiente controlado. Num ambiente normal já foi o que se viu. Do segundo miúdo, mais velho um mês, também lhe ouvimos uns murmúrios. Dependente da mãe, birrento e muito pouco sociável numa tarde inteira de brincadeiras. Da imaginação a brincar nem se fala. O meu filho encosta-o a um canto, apenas no exercício simples de pôr os bonecos a dialogar. Sei que sou suspeita mas apraz-me dizer duas coisas: a primeira é que fiquei muito surpreendida e ainda mais convicta no orgulho que tenho no meu filho, por estar a batalhar para ultrapassar um atraso no desenvolvimento; a segunda é aconselhar certos cientistas da mente a redefenirem o conceito de PEA. É que entre estes três meninos, o meu filho era o único que não parecia autista. Ao ponto de as mamãs dos respectivos terem dito que o meu filho estava muito desenvolvido.

domingo, 2 de março de 2008

Começa

a fazer frases mais complexas, o que faz com que se acenda o farol da esperança. Ainda mais importante é que começa a aperceber-se quando não estamos bem ou precisamos nós de carinho, oferecendo beijos e afagando-nos a face. "Ele não tem nada!" ou "Se tiver, vai curar-se" são coisas por vezes digo a acreditar mesmo. Mas depois vai ao zoo e perde mais tempo a atirar pedras ao lago e a brincar com folhas do que a ver os animais de que tanto gosta. O farol apaga-se um bocadinho mas a luz continua lá. Porque as mudanças têm sido boas demais. "Queu cóuo mamã" ou "Onde tá a eli?" subsituiram o "cóuo!" e a "eli", ditos em tom imperativo.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Alguém

pode ter a gentileza de avisar o Pai, do Trabalho de Casa, que não consigo comentar no blog dele há uma data de tempo? O comentário fica feito aqui.


Olá Pai. Também faço dessas "listas", mas dispersas... Um aqui, outro ali. Olhe eu não gosto do que já escrevi no meu post anterior. Não gosto que ele meta os dedos nos olhos das pessoas, que também salte em cima do sofá, que caia a toda a hora, que, tal como o seu, coma qualquer porcaria do chão e que tente comer a banana com casca. Não gosto quando insiste em barrar os bonecos com os boiões da fruta que despeja em cima da mesa e não gosto quando se põe a mexer no cabelo com o olhar no vazio. E, mais do que isso, detesto quando faz força nos braços para estremecer, com um esgar algo assustador. Noutro dia até lhe atirei um chinelo para o tirar do transe. Também não gosto que rejeite comer o que quer que seja e depois se alambaze de chocolate. Quando fazemos a lista do que gostamos? E explique-me, se quiser, o que quer dizer com a parte da estimulação oral? A fala? É que por aqui a estimulação tem feito milagres. O que o Pai não gosta, de certeza, é de não ver resultados imediatos. A pergunta é pura, porque não percebi mesmo o que quis dizer. Mas não desista ainda. Vai ser num clique quando menos se esperar. Não tem havido evolução nesse campo? Deixe-me dizer-lhe ainda que tenho vindo ao seu blog e também pensei na operação do seu menino. Mas, desde há uns tempos, dá erro ao comentar. Beijinho grande

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Conquistas e não só

Aprendeu as maravilhas do sim e do não. Finalmente percebeu que as duas palavrinhas mágicas lhe dão autonomia e alternativas. Queres pão? Não! Queres iogurte? Sim! Dás um beijo à mana? Não! São conquistas. As frases limitam-se por agora a duas palavras, mas sempre que se vê em apuros tenta dizer tudo, atropela palavras e não lhe sai uma perceptível. Mas tenta, pelo menos. Já nos chama pelos nomes e tem plena noção da sua individualidade. Sabe que é ele no espelho e nas fotos, assim como a restante família. Dos desajustes: bate à porta "truz, truz" e é ele a perguntar quem é. Aqui há dias no parque infantil, estava ele e um menino naqueles mini túneis espelhados e, olhou o outro miúdo, sorriu e... tentou sentar-se em cima dele. Também é costume empurrar carinhosamente os outros e meter-lhe os dedos nos olhos. O pior é que eles ou caem, ou choram ou fazem ambas as coisas.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

De mim

para mim, por vezes tenho noção de que este blog, sendo público e aberto a todos, pode parecer oscilar entre o deprimente e o maçador. Para ser sincera, o objectivo é mais ou menos esse. Ou seja: quase só escrevo sobre o mesmo, assinalando exaustivamente todos os passos e pensamentos. Não quer dizer que goste dele. Ou que eu seja só isto que escrevo. Muito pelo contrário. Sei aquilo que procurei quando o autismo me atropelou em plena passadeira. Queria ler algo banal, pessoas cheias de lágrimas, revoltas e questões. Pessoas que, dia após dia, foram crescendo e aprendendo. Apetecia-me fazer textos diários, banais, chatos. Meus. De quem os ler e de quem com eles se identificar.

Eles

Os dias correm felizes e cansativos. De tanto espalhafato colocado nos treinos do meu filho, com saltos, palmas e acrobacias, "ohhhh" e "ahh", o miúdo agora quer mostrar-nos tudo e se não lhe damos atenção fica muito sentido. Aponta para tudo, quer que a gente reaja às suas descobertas e aos seus vocábulos. O floor time tem feito maravilhas por ele. Um floor time casual, sem regras, sobretudo pelo trabalho aturado do meu marido, que transforma a suposta "intervenção" em puro lazer. Ele sabe brincar muito melhor do que eu. Os resultados têm sido surpreendentes. Para além de já fazer entender as suas necessidades, a partilha de prazer é, para nós, um sinal muito positivo. Responde com "xim" ou "quéio", algo que não fazia há bem pouco tempo atrás. Obviamente, isto implicou algo de muito valioso: nunca o achar incapaz para tal. Insistir e acreditar. Não deixar de fazer só porque acreditamos que ele nunca chegará lá. O pai maça-o muito. Obriga-o a comunicar-se. Aqui entra o tal jogo obstrutivo que eu deixo para ele, pois sou incapaz de aguentar o choro dele.

A nível oral, não lhe falta saber muito mais. Pouco lhe escapa. Sabe mais palavras que a Amália. A ver televisão, está sempre "é o sol", "é a lua", "é o menino", "é a menina", blá, blá, blá. Tem um sentido de humor fabuloso e, verdade seja dita, divertimo-nos imenso juntos. Está numa fase muito gira. Muito companheiro do pai, enquanto eu me dedico um pouco mais à bebé. É muito ternurento e adora que o mimem. Continua a rir-se quando nos vê a fingir tristeza, mas dá imensos beijos se o pai se estende no chão a fazer-se de desmaiado. Como sempre, há falhas. E estas têm a ver com a ausência de respostas a perguntas mais elaboradas: "Está frio não está?", "O que comeste hoje?", "O que fizeste?". Nada... Não há respostas. Simplesmente, ignora as questões. Também se zanga imenso quando é contrariado e pouco lhe importam as explicações. Assim como assim, a julgar pelas diferenças abissais desde uns meses a esta parte, vou continuar a acreditar que ele chegará lá. E se não chegar, paciência. Com a irmã, foi uma agradável surpresa. Tem gostado mais e mais dela e já se habituou à sua presença. Estou em crer que serão grandes amigos. Estamos numa boa fase e há que aproveitá-la. Não faltarão vales nesta paisagem.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Telegrama

Tudo vai bem. Sem grandes cenas de ciúmes e com muita curiosidade pela irmã. Fala tudo, comunica intenções e dá nome a tudo. Só não parece muito interessado em render-se às conversações. Constato agora que o que me doeu mais ao saber da PEA não foi o saber da sua existência mas, de certa forma, o medo de que o meu filho desaparecesse nos labirintos da própria mente. Essa incerteza equivaleu a uma perda física. Serenei o meu coração quando, nos dias seguintes, continuei a vê-lo no mesmo sítio de sempre e continuei a amá-lo da mesmíssima forma. Hoje está um menino grande, um irmão mais velho que aprenderá a partilhar e a não desabar sempre que é contrariado.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Nasceu!

Às 17h50 de ontem, dia 16 de Janeiro. Pequenina mas muito enxuta. Uma latina encantadora. Mais pormenores na caixa de comentários.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Só para mudar

o tom catastrófico dos últimos tempos. A mais nova está quase a nascer. O mais veho aponta para a baíga e chama pela nana- bebé. Está lindo, meigo, menino. Eu tenho flores e borboletas no estômago com a perspectiva de vir a amar com a mesma intensidade.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Adeus

De entre as centenas de vidas em que tive de me despedir de ti, que se reflectem noutras tantas despedidas em sonhos nocturnos e aflitivos, este foi mesmo o último adeus. Um adeus real, de olhos abertos. Foi a Despedida com letra maiúscula. Pedi-te, sobretudo, para não te deixares engaiolar. Para lutares pela tua liberdade e pelo passado que te levou até onde estás. Não sei o que será de ti se não o tentares.