quarta-feira, 30 de abril de 2008

Pouco amigo do silêncio

No banco de trás do carro, diz-me muitas vezes:

-Mamã canta! (deve ser dos poucos que me pede para cantar. LOL. Bem, o meu marido também gosta, vá lá. Estou safa!)

- Fala mamã!

Em casa:

Dança mamã! (não é coisa que goste muito de fazer mas por ti, vamos lá!)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Ser

Asperger é muito diferente de ter um ou outro traço a remeter para o autismo. Ou ser simplesmente inadaptado, por uma série de razões. Acho que nesse ponto não há grandes dúvidas, apesar de, meia volta, haver debate sobre o tema. Vim agora do Asper e lembrei-me, por isso, de um episódio elucidativo ocorrido este fim de semana. O familiar do meu marido, a quem já dediquei um texto, tem 33 anos não é Asperger, mas são inegáveis alguns sinais estranhos. O exemplo: em convívio na sala de estar, alguém pergunta que horas são. Prontamente, a mãe da casa responde: São 7 (pm). E ele contrapõe, algo zangado: não são nada 7, são 6h58. A mãe insiste, ironizando: que diferença...! Ele levanta o tom de voz e reafirma: que eu saiba 7 são 7 e 6h58 são 6h58!! Confesso que se não fosse o ar de mau dele, não teria evitado a gargalhada de incredulidade que me apeteceu dar.

domingo, 27 de abril de 2008

Agora

é muito fácil dar por eles. Aquele ar de quem não está cá. Os movimentos rígidos, automatizados. O olhar que se fixa em coisa nenhuma, como se a ver algo que mais ninguém vê. Nunca foi tão fácil identificá-los, apreciá-los no seu mutismo selectivo, na sua aparência etérea. São como um sopro. Um quase. São a presença que ninguém chega a sentir.

sábado, 19 de abril de 2008

Emoções que transbordam

Era suposto voltarmos ao mesmo sítio para uma reavaliação, mas vamos optar por levar o miúdo a outro sítio, para uma segunda opinião. A decisão ganhou força depois de recentes conversas versando experiências de diagnósticos precipitados. Não quero iludir-me nem ofuscar a realidade, mas estou expectante e ansiosa. Talvez caia de muito alto ou se dê um milagre. A vida é feita disso mesmo.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Dizia eu

que ele não era chibo. Ontem, estava eu na sala, ele na cozinha com o pai a comer, ouço uma repreensão. Vem ele todo chateado e diz: xuta, tau tau, chão! As ligações inter- frásicas existiam mas não as consigo reproduzir porque não as percebi. Então, pergunto-lhe: o que foi filho? Levaste tau tau, foi? E ele: xim, xim, tau tau mão. A lamuriar-se. E quem foi que te deu tau tau: O Pêdo! (pai). Também, de vez em quando me diz que "a Malena é feia e má". Ontem perguntei na creche quem era a Malena. É uma menina que acerta o passo aos coleguinhas todos.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Ainda

me lembro bem das viagens infantário-casa e casa- infantário. Sempre tão solitárias. Sentia uma terrível angústia em ir o tempo todo a falar sozinha e a fazer perguntas sem o mínimo retorno. Ali, as árvores estão douradas porque é Outono. Ah, tantas plantinhas. Olha um camião, olha, olha! Será que vai chover? Hoje, é ele quem me diz que é de nôte pois já vê a lua e que ali ao lado é o estádio dos meninos do futebol onde há uma televisão gaande. E vai todo o caminho a cantar e a dizer as suas coisinhas giras.

domingo, 13 de abril de 2008

Para registo

Quando era mais bebé, esfregava os dentes uns nos outros e fazia um barulho impressionante. Fez isto durante meses. E também gemia. Na altura, na consulta da terapia da fala onde pela primeira vez nos vimos confrontados com a possibilidade de uma PEA, a terapeuta achou que também podiam ser sinais. Eu também cheguei a ter esse vício, sobretudo a dormir e, pelo que sei, designa-se de bruxismo ( que nome!) e afecta muita gente. Há até quem tenha de usar uns acessórios de borracha para não desgastar os dentes. Nunca mais o fez. Julgo até que depois da consulta não o fez por mais um mês. De qualquer forma quis registá-lo.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Preciso

de dicas para iniciar o desfralde. :D

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Lindo

O post de André Vilaça, a que chamou "O aniversário do Sr. Carneiro", no blogue O Zapping, cujo endereço está na minha barra lateral, é das coisas mais ternurentas que já li. Vale a pena, pelos espíritos do champanhe e pela amizade validada num abraço tão esperado.

Raciocínio lógico

Lá pela creche do pequenito, educadoras e auxiliares, sem nada saberem da PEA do meu tesouro, têm vibrado com as conquistas dele. É notória a afeição que se traduz em entusiasmo sempre que há um novo obstáculo vencido. Em conversa com o pai, a educadora contou-lhe que deixou dois puzzles em cima da mesa, enquanto foi acudir a uma criança que se tinha magoado. Minutos depois, quando regressou, os puzzles estavam feitos pelo meu filho. Cá em casa, só há pouco tempo o apresentámos aos puzzles, já que antes eram mais encaixes, legos e pares. Brinquedos para 3 anos que o meu filho de 30 meses já domina. É notória também a facilidade com que decora as letras e os números o que, inevitavelmente, me remete para as palavras da mariamartim quando os compara a computadores que armazenam vasta informação. Só com o tempo verei se muito do que aprende lhe será útil na vida social. A educadora, contudo e felizmente, não elogiou só o raciocínio lógico-matemático, que considera um pouquinho avançado para a média. Frisou a evolução noutros níveis, sobretudo no que toca à interacção com outros meninos. Antes, até aos dois anos, o miúdo preferia brincar afastado do resto do grupo, o que já não acontece. E, ressalvou ela, também passou a obedecer a ordens, quando antes as ignorava. Confesso que foram estes dois últimos itens que mais me deixaram feliz. Dos outros, só retenho a confirmação de que não há qualquer atraso mental, o que, obviamente, já foi motivo para festejos numa etapa anterior. Neste momento, sabê-lo cada vez mais integrado e autónomo é música para os meus ouvidos.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Chibo

Devia ter escrito o post de baixo primeiro. Depois da dentada, eu quis à força toda que ele me disesse quem o tinha mordido, apesar de já saber. Perguntei-lhe vezes sem conta: "Quem te mordeu, filho?" , "Quem fez o dói-dói que tens aqui?" Nada de resposta. Olhava-me e continuava a brincar. E eu insistia, já soltando alguma frustração por ele continuar a não responder a coisas básicas que se prendem com os relatos do dia. Em silêncio costumam ficar também as respostas às perguntas "Então, hoje tiveste música? O que comeste na escola? Com quem brincaste". Já ao deitar, antes de lhe contar as "históias" que já pede insistentemente, a derradeira tentativa para que chibasse o agressor: "Quem te mordeu, filho? Foi aaaaaa...". E ele virou-se para mim e respondeu: "Foi a Sofiaaaa". Tive nesse momento a clara percepção de que o segredo, nesta fase, está na maneira como se faz a pergunta.

Bits and bytes

Ontem chegou mordido a casa, abaixo de um olho. A mordidela deve ter sido quase carnívora a julgar pelas marcas roxas. Estava vermelho de ter chorado. As educadoras disseram ao pai que foi uma menina que o trincou violentamente, após a disputa de um brinquedo. Perdoem-me a sinceridade, sei que faz parte do leque de palermices infantis, mas, tivesse eu visto, e a coisa não ficava por ali. Ou ficava, pronto. Mas que eu subia aos arames subia. Sei que há pouco a fazer quanto a esse vício a não ser esperar que passe. Mas enervo-me porque ele não se defende. Lá na creche dizem que ele é meigo e não bate em ninguém. Vou ensiná-lo a devolver mordidelas e chapadas. Para se defender, ponto final, parágrafo.