segunda-feira, 19 de maio de 2008

um mês

Falta um mês. Para tudo e para coisa nenhuma. Uma consulta. Mais uma. Quero estar sossegada, mas suam-me as palmas das mãos como da primeira vez. Não raciocino, não sou objectiva, tenho dias de descrença, outros de grande esperança. Na escola, nada vêem de anormal, mas também é costume que nada vejam, nesta fase. Com as palavras, veio a socialização com os colegas, os jogos da apanhada, os risos conjuntos. Mas chegará? E aquela sensação de que é mais bebé do que os meninos da idade dele? Não é tão pateta e as gracinhas que faz não têm o intuito de nos fazer rir. Seria suposto que assim fosse, com esta idade. Suponho que sim. Rimo-nos juntos de muita coisa, no entanto. Pede desculpa quando faz asneira, de beiçola esticada e só sossega quando vê o sorriso devolvido. Restabelece-se a paz. Ele quer ser perdoado. "Culpa mãe". "Estás desculpado, meu filho, dá cá um beijinho". Também não falha os "santinho!" e os "Com licença". Continua a gostar de histórias e de cantar. Fica muito aflito quando os bonecos caem e se magoam, nos desenhos animados.

No parque, já gostou mais das opções. Agora reluta em andar de escorrega, tem medo. Anda em escorregas mais pequenos que lhes pareçam seguros. Será medroso? Será da PEA? Será? Será? Será o quê? Que importa? Esperam-nos tantas caminhadas, tantos dias sim, tantos dias não, tantos porquês. Uma outra opinião, no fundo, no fundo, de nada servirá. Só mais tarde, um pouco mais tarde, com o crescimento que se impõe e se espera em cada estádio do desenvolvimento, aí se verá. Se é inábil, se sabe fazer amigos, se tem défice disto e daquilo. Não liga muito à irmã, julgo que por falta de interacção da parte dela, mas, muitas vezes, passa por ela faz-lhes festinhas e dá-lhe beijos nas mãos. Ontem quis que se sentasse ao lado dele, na mesa da "brincadeira". Já chegou a dar-lhe uma chapada, quando o contrariamos. Bateu em quem estava mais à mão. Também já nos levantou a manápula a nós, zangado. Mas é bom que exteriorize, para que lhe possamos pôr travão. Já percebeu que é asneira. Será que vão aumentar estas reacções? Vão subir de tom? Para já, pouco há nele de verdadeiramente agressivo. Não me parece hipersensível a coisa nenhuma. Nem ao som, nem à luz. Às texturas, sim, da comida. Tem nojo de coisas molhadas, portanto a melhor invenção foram aqueles nuggets de frango que se comem num pauzinho de gelado. Mas de chocolate não tem nojo, por mais que se derreta. Nem de palmiers cobertos de creme, nem dos chupas a que chama "reais".

Já faz frases mais completas, com muitas palavrinhas, mas não "conversa" grande coisa. O mesmo de sempre. Não é curioso e ainda nada pergunta sobre o porquê das coisas. Pergunta onde está A, B ou C, sabe bem o que quer e sabe partilhá-lo. Será cedo? Será? Com o aperfeiçoamento da linguagem virá o resto? Limita-se ao que está a viver e descreve-o. Sabe que ao sábado é dia de ir ao café e ao parque e pede, pede, pede. Não são rotinas, são hábitos. Não é patológico, são gostos. Vou esperar. Esperar, esperar, esperar. Esperar o quê? Nada. A bem da verdade, não há muito a esperar. Se tiver as limitações, não são os veredictos dos outros que vão mudar grande coisa. Vou esperar sim. Que ele cresça. Para já, o meu coração de mãe anda baralhado.

11 comentários:

Mel disse...

Querida Isa.
Acho que te estás a atormentar demais...Acalma e não te perguntes tanto. Se queres saber, o facto de no colégio não notarem nada, é um bom indicio de que, seja lá o que for que o teu menino tenha, não seja nada de especial. Se calhar é mesmo apenas um pequeno atraso recuperável, sem espectros daqui e dacolá. Olha, o meu, com a idade do teu, notaram perfeitamente na escola que se passava algo. É certo que sabiam da situação mesmo antes dele entrar e eu pedi para avaliarem e me darem a opinião. Esta foi a de que, de facto, eu tinha razão e se passava algo. O que tu descreves no teu, está o meu agora a fazer com 4 anos ( faz 5 em Julho) e, mesmo assim, na ultima consulta com o pedopsiquiatra, pessoa que eu acho muito moderada e sensata - da panoplia toda de profissionais com quem já contactei é de facto a aquela em quem mais confio - referiu-nos que ele estava muito bem, que não achava nada que fosse asperger ( pelas atitudes que ele vem revelando: preocupação com os sentimentos dos outros, estratégias para contornar os adversários de jogos e ganhar ele, fazendo batota, preocupação em ser desculpado, etc, etc.). Mais referiu que estava convencido que daqui a algum tempo talvez já nem tivesse rotulo algum ( ele sempre achou que se tratava de uma perturbação da relação e da comunicação e não tanto uma perturbação do foro autista. Enfim, embora eu não seja tão optimista, a verdade é que o meu filho tem feito progressos que sinceramente eu achava que não iriam surgir tão depresssa. Estou sinceramente convencida que para isso tem contribuido o bom ambiente que lhe temos proporcionado, quer em casa, quer na escola, rodeado de pessoas que lhe mostram o quanto gostam dele e isso tem sido, sem dúvida, o fermento de tudo.
Quanto aos medos e a agressividade, acho que todos passam por essa fase. O meu mais velho, que não tem perturbação alguma, passou por uma fase em que tb não queria escorregas muito altos e baloiços, então, nem pensar. Hoje é um verdadeiro radical: quanto mais alto melhor. Até aos 4 anos, fazia birras de por os acabelos em pé ( chegava a fechar-me com ele no quarto, para controlar o espaço da crise e, como não o deixava bater-me, pontapeva a porta). A partir dos 4 anos, mudou radicalmente ( até chegava a pedir ao meu marido para me beliscar qd lhe pedia algo e ele dizia logo que sim, qd antes era o sentimento de oposição mais puro. Hoje é um menino adorável e doce, claro que com as suas travessuras proprias da idade (7 anos) e muito colaborante com o irmão.
Como vez, parece-me que o teu menino está a passar pelas etapas normais que todos passam. Aguarda serena...
Um beijinho grande.
Maria Anjos

. disse...

Maria Anjos, como o dia está a chegar, já ando num turbilhão. Ler-te é sempre um bálsamo, sinceramente. Não és optimista, dizes tu, mas pareces-me muit sensata. Pelo menos tiveste o dom de me puxar pelos cabelos para cima, já que a minha tendência agora é recolher-me nos meus buracos para fingir que a realidade é outra. Sabes, no fundo, tenho medo de acreditar. E tb tenho medo de me desiludir. Uma mistura! Na escola, elas não sabem que existe uma PEA, mas sabem que ele foi a uma consulta de "pedopsiquiatria" e que tinham de o vigiar, por sugestão do médico. Qualquer coisa anormal teria de ser reportada. Têm reparado muito nele e ainda não me apontaram nada de mal... O teu filhote tb me parece muito bem. Olha que Deus (n)os ajude, no que der e vier. Beijos grandes. Isa

Estrunfina disse...

Isa,

Não podes estar tão stressada. Vejo perfeitamente que o meu estado de espírito se reflecte no comportamento da Cathy, mesmo que eu o disfarce.

É bem verdade o que dizes sobre as opiniões médicas. Podem estar certas ou erradas, só o vamos descobrir quando olharmos para trás e vermos a evolução dos nossos meninos.

Penso que o importante é analizarmos bem o presente e intervirmos nos campos que parecem necessitar de atenção. Se no fim chegar à conclusão que nem teria sido necessário, mal não fez de certeza.

Um grande beijo,
Andreia

Mrs_Noris disse...

Isa,
Acho que podes ficar mais descansada. O meu nessa idade não fazia nada disso. Tinha, sem dúvida, mais dificuldades na relação e na comunicação.
Por exemplo, perguntavamos "queres uma bolacha?" e ele, em vez de responder "Sim", esticava o braço e gritava descontrolado. E só se calava na posse da goluseima.
Recusava-se a ouvir-nos.
Gostaria de saber a opinião do médico que por acaso lesse este post. Certamente diria que o teu menino não tem nada. Não identifiquei nenhum sinal de PEA nas tuas descrições. Os "porquê" hão de chegar. O meu filho entrou na fase dos "porquê" já depois dos 4 anos e ainda não deixou de ser curioso.
Há um mês foi-me finalmente dito que é portador de uma perturbação da relação e da comunicação. E que "possivelmente" será Asperger. mas como tu dizes e bem, o diagnóstico não mudou nada. Só daqui a 10 anos, aproximadamente, é que poderei pronunciar-me sobre este prognóstico médico. Até lá vou aproveitar ;)
Um beijo.

Mina disse...

Olá Isa
Aí,Aí ... eu não disse para manter calma (lol).Tal como as outras mãmãs dizem, eu acho que o seu pequeno está a ter um desenvolvimento muito harmonioso. Nós no 1º. filho, temos sempre maiores preocupações, não quer dizer que com os outros não tenhamos, mas os primeiros fazem tbm parte da nossa aprendizagem de pais.E ás vezes valorizamos demais alguns sinais.O que por acaso no caso do autismo não me era nada familiar e com a pouca informação que havia á època eu achei logo que o meu filho não se enquadrava, embora tivesse alguns comportamentos autistas.Finalmente aos 18 anos encontro o nome que não era muito diferente daquele que eu já tinha registado para mim (CA)transformou-se em SA.E apesar dos vários diagnosticos que fui tendo, nunca me iludi com eles, embora deva confessar que esperava uma integração mais profícua.
Nós só começamos a desconfiar a partir dos 3 anos e aos 4 quando entrou ,para a infantil confirmamos as dúvidas,porque até lá esteve sempre em ambiente familiar.Dê tempo ao tempo ele é muito pequeno, muito se pode alterar, até lhe posso dar ex: de uma amiga psicolga, que tem um filho ,que até aos 2 anos não falava quase nada, um dia lembrou-se de abrir os registos e tinha tudo, e, é uma criança sem nenhuma patologia clinica.
Vá força minha amiga, e confie na sua intuição. E seja o que for ,o amor esse é sempre inabalável.
Bjocas

Anônimo disse...

Fica tranquila querida!!!! A cada dia vejo que nossos filhos tem apenas um atraso que logo será superado!!! Teu gatinho está ótimo, assim como minha julinha!! Não difere em nada das outras crianças...claro que cada criança tem suas manias, medos...a juju não curte muito som alto...sua prima da mesma idade e considerada "normal" tem medo de cachorro...kkkk ou seja, são fases, manias e medos que todas crianças tem. A evolução do teu gatinho na linguagem está muito parecida com a juju embora ela esteja mais "evoluida" acredito tb por ser menina....mas os passos são os mesmos..fico impressionada!! A juju já faz frases complexas, realiza pequenas tarefas que solicitamos, feed back perfeito...coisa impensável há um ano atrás...A fase dos porques é um pouco depois não te preocupa...ainda vamos nos alegrar muito em responder suas milhares de perguntas..kkk
beijão

. disse...

Estrumpfina, eles têm os radares bem apurados. Eu tenho andado bem, entendes? Mas quando reflicto, dá-me os sustos e as incertezas e aproveito para reflectir sobre isso aqui. Apesar da fé e de todas as coisas bonitas que ainda vemos na vida, a caminhada não é propriamente fácil. :) Um beijinho. Isa

Noris, aproveiá-los é mesmo o melhor da vida! Tão lindos, tão felizes, ainda tão inocentes. Sabes, no fundo eu não queria ir ouvir mais nenhuma opinião. Assim vivia na minha doce ilusão... Tb me inibia de saber as coisas boas, mas enfim. Às vezes a vontade é fazer como a avestruz: escarafunchar a areia para não ver mais nada!

Mina, sim, o amor é sempre inabalável. :) Nós bem queremos protegê-los de tudo, das desilusões.. Também tive uma adolescência bem difícil e era muitíssimo bem integrada socialmente. Imagino como eles não sofrem. Mina, o seu filho naquela idade dos 16 e 17 questionava-se muito sobre o facto de não conseguir fazer amigos? Como é que eles vivem essa fase? Um beijinho. Isa


Jane, olá! Pois é, os nossos dois meninos têm uma evolução parecida e casos muito semelhantes. Fico contente por a Ju continuar a evoluir. Já deve falar tanto! Asd meninas são mesmo mais despachadas e falam sempre mais cedo. É mesmo muito bom sinal ver que não há retrocessos, só evoluções. Gostava tanto de vos poder ler. Mas cansaste-te definitivamente dos blogs, não foi? Não voltas mais? Um beijinho para vocês.
Isa

Mina disse...

Respondendo directamente há sua pergunta o Bruno nunca questionou a falta de amigos só teve mesmo aquela amiga, porque era uma menina especial da idade dele e que era assim uma especíe de mãe em ponto pequeno, percebia que se ele não respondesse á primeira, ela repetia até obter resposta, tal como eu ainda hoje em dia faço,porque ele frequenta muito outros planetas (lol).Ainda ouve uma outra jovem tbm no femenino que tentou socializar com ele mas como já estavam na adolescência,não conseguiu, ainda assim foi a única que o convidou para uma festa de anos.Curioso é o facto de ele gostar de comunicar, mas não o sabe fazer em moldes que os outros percebam.Por outro lado adora o isolamento, se a minha amiga está baralhada, imagine eu que mesmo com estes anos que já levo de prática ás vezes ainda não percebo como funcionam estas mentes,nem virei a saber nunca, mas continuo a fazer um esforço.
E penso sempre estar a dar o meu melhor...
Bjocas

Grilinha disse...

Sei bem o que são angústias pré-consulta, mas na verdade por vezes as consultas são pouco fidedignas, não achas? Por vezes eles esperam demais e só isso já basta para alterar qq pessoas, quanto mais uma criança.
Mesmo que eventualmente não tenhas o melhor dos prognósticos, é preciso manter a calma e perceber que não é uma sentença ! É um dia em muitos dias uma criança que ainda se está a dsenvolver a um ritmo, que é dela...só dela.

O teu menino parece ter atitudes normalissimas...e é muito novinho. Aproveita-o.

Vais ver que tudo correrá bem e daqui por uns meses estás a escrever posts bem mais confiantes.

Um beijo

Evaluna disse...

Olá Isa!
Compreendo essa ansiedade, esse medo mas pelo que descreves o teu pequenino não é diferente de outras crianças da mesma idade. Acredito que o tempo irá demonstrar que ele não tem nenhum problema.
Vai correr tudo bem!
Um beijo

. disse...

Mina, tenho a certeza que sim. Nota-se bem que é uma mulher corajosa e cheia de garra, que se esforça muito pelo seu querido Bruno. Só de imaginar os beijinhos que lhe dá pela noite, antes de ele dormir, consigo visualizar esse amos imenso. :) Isa

Grilinha, podes crer. Se eles estiverem mal dispostos, birrentos ou menos cooperantes dão uma imagem errada daquilo que são e sabem. Mas é como costumas dizer, o verdadeiramente é que nós saibamos cada uma das suas conquistas. Um beijo. Isa

Evaluna, Deus te ouça, minha querida. Os dias passam a correr e num instante receberemos outro veredicto, com o qual concordaremos ou não. Beijos vezes mil. Isa