domingo, 1 de junho de 2008

Dúvidas

Alguém viu a reportagem sobre NEE, na Sic? Entre outras considerações, apeteceu-me perguntar à jornalista o seguinte: saberá ela que dos cerca de seis mil professores destacados para as NEE, números pomposos anunciados cinicamente pelo ministério da Educação, a maioria não tem qualquer formação na área? Em relação aos nossos meninos, por exemplo, de que lhes vale alguém que nada percebe sobre autismo?

13 comentários:

Mel disse...

OLá a todos,
Eu vi o programa da SIC e, como se verificou, a capacidade de resposta é inferior às solicitações. Depois, aquelas crianças com deficiências mais profundas, viu-se que a escola regular não funciona, eles são e sentem-se mesmo muito diferentes nas mesmas. Por isso, o paradigma da inclusão tem de ser revisto e pensado de acordo com os casos em concreto. Seria bom todos poderem ser incluidos e intregrados em escolas regulares, mas isso se for o melhor para as crianças. Se for numa perspectiva de controlo de custos, por parte do ME, então acho que não será o caminho, como vimos na reportagem, casos houve em que as crianças foram mal tratadas - caso do Henrique, aquele menino autista profundo, do Norte. Isto leva-nos ao ponto da má formação cívica da comunidade escolar, por um lado, por outro á falta de formação especifica dos docentes.
O meu menino, teve a sorte de este ano ter uma educadora de apoio que é um amor de pessoa e, ainda por cima, é formada em NEE, com 8 anos de experência. Digo a sorte porque de facto não é frequente terem esta formação especifíca ( o que deveria ser normal!). Para ele ter este apoio tive de andar de um lado para o outro e ser muito, muito chata. De facto, desde que foi diagnosticado, em Dezembro de 2005, no inicio de 2006 dirigi-me ao serviço de intervenção precoce da minha área ( nem sabia que existia tal, soube por outras mães - este é outro dos problemas: não há informação sobre o que fazer e a quem se dirigir nestes casos, vamos decobrindo aos poucos e funcionando a teia de contactos). Lá, após fazerem a avaliação do meu filho, como o ano lectivo já ia a meio, ficou inscrito com a promessa de apoio no ano seguinte, uma vez que os técnicos já estavam distribuidos. No ano seguinte, vieram com a conversa de falta de meios, de retirada de apoios por parte do ME, etc, etc. Como não me calei, pq um técnico já ia ao colegio do meu filho, para apoiar outra criança, achei que não fazia sentido não acompanhar tb o meu. Vieram então justificar que o mesmo técnico não pode acompanhar as mesmas crianças, etc, etc. Como voltei à carga e questionei, então vieram com a justificação de que o meu filho tinha uns pais preocupados e interessaos que até havia-mos sido os proprios a sinalizar a criança, que já lhe estavam a proporcionar intervenção ( privada e paga, claro!) e como eramos uma familia estruturada, tendo ainda em conta os nossos rendimentos, não eramos considerados elegiveis nem prioritários. Desculpem-me o termo, mas "passei-me" de todo. O meu marido chegou a sugerir se seria necessário aparecer lá alcoolizado e eu com um olho negro para passarmos a ser elegíveis ( isto tudo tratando-se de serviços que vivem de recursos públicos para os quais contribuo, e muito, como cidadã contribuinte!) De facto não consigo arranjar um técnico que vá à escola e passe lá a manhã ou a tarde, pelo menos que eu possa pagar ( em média 40 euros /hora). Escrevi para o ME, enfim, nada. Até que soube que os apoios tinham passado para os agrupamentos verticais das escolas das áreas de residência. Soube onde era, fui lá falar com a Directora ( não saí de lá enquanto não me atendeu) e expliquei-lhe a situação. Ela, que me pareceu de facto sensivel a estas questões, concordou que ele não podia ficar mais tempo sem apoio e garantiu-me que tal iria ser facultado. Então, no ano lectivo em curso, lá tenho esta professora excelente que está a fazer um trabalho optimo, articulando e dialogando com todos os técnicos que trabalham com o meu filho. Para o ano, já não tenho garantia de apoio, tendo em conta a CIF ( a tal tabela de classificação de que tanto se fala), pois pela mesma, o meu menino será funcional e não será elegido para apoio (dá para acreditar nisto!) ou seja, um trabalo que deu tão bons resultados, corre sérios riscos de não ter continuidade. Se isto é promover a integração, penso que está tudo dito, ou então é a politica do utilizador pagador: não cabe na CIF, mas precisa de apoio, então pague ( pelos vistos aquela primeira versão que me deram para não ser elegivel até já estava muito actualizada). Enfim, há mesmo muito a dizer sobre este problema, mas como já me alonguei de mais, fica para outra oportunidade.
Um abraço a todos.
maria anjos

Evaluna disse...

Olá!
Eu não vi tudo porque pus a gravar e a gravação terminou a meio :P
Eu acho que por vezes porde valer alguma coisa estarem com alguém que não tem formação específica. No meu primeiro ano de trabalho fui colocada numa equipa de educação especial (chamava-se assim na altura) e acompanhei 5 crianças 3 delas eram casos complicados. No início fiquei em pânico, perguntava-me "poderei fazr alguma coisa por estas crianças?". Tive que estudar muito, perguntar muito à coordenadora da equipa, fui a associações e instituições...Foi um ano angustiante, difícil mas o resultado acho que foi positivo. Como há falta de educadores/professores especializados eu acho que é melhor terem acompanhamento de alguém que pode até fazer um bom trabalho do que não terem nenhum apoio. Algumas das crianças que apoiei nem estavam na creche, eu fazia apoio ao domicílio.
Mas é preciso um esforço extra da parte do educador e também acredito que nem todos estejam na disposição de "perder tempo" em pesquisas...Havendo vontade por parte do educador eu acho que é possível fazer um bom trabalho.
O ideal seria um profissional com formação específica mas penso que infelizmente não há professores suficientes para todas as crianças que necessitam :(
Sei que há educadores com formação específica que não estão a trabalhar com crianças com NEE mas será que vale a pena obrigá-los a trabalhar com essas crianças quando eles não têm vontade de o fazer?
É muito complicado...
Beijo grande!

. disse...

Maria Anjos, é revoltante. Mais valia assumirem as fragilidades do que andarem a tapar buracos. O problema dos Aspergers, já discutido por aí, é precisamente o de serem funcionais (aparentemente), o que lhes retira logo prioridade. Depois andam os pais sempre em lutas desgastantes, como se não bastasse´m já as dificuldades que a própria integração e vida com estes meninos acarretam. Agora apetecia-me ser um bocadinho irónica e dizer que alguns membros do Governo, se tivessem algum familiar com NEE, talvez compreendessem um pouco melhor a dimensão e o desespero de quem os ama e tenta que eles se adaptem numa escola regular. Espero que o teu menino não perca o apoio, tanto mais se está a correr bem. :( Beijos. Isa

. disse...

Evaluna, não estou certa que vale mais alguém sem formação do que ninguém, Conheço casos em que o modo de trabalhar com crianças assim é tão errado e circunstancial que os miúdos pioram a olhos vistos. Se é para isso, é estar a remar para trás. Uma professora, já por si desgastada por estar sempre a mudar de escola, a quem são dados meninos com variadíssimas NEE não pode dar-lhes os apoios de que elas precisam, por mais que estudem. Ninguém fica profissional em autismo, síndrome de Down, etc, de um dia para o outro. Se é para tomarem conta deles, enquanto os professores dão aulas aos alunos regulares, então mais vale ficarem à guarda de auxiliares, que vai dar no mesmo. Tenho um familiar que é professor, em cuja escola há uma professora a dar aulas a meninos com NEE que pede, recorrentemente, apoio e conselhos, pois não sabe como lidar com eles. Beijos. Isa

Mrs_Noris disse...

Isa,
A reportagem já está disponível na Internet. Quem não a viu, poderá vê-la através do link "Dois Mundos, Uma Escola" na secção Vídeos do meu cantinho. Tentei colocar aqui o link de acesso directo mas o blogger não autorizou. Beijo.

. disse...

Noris, obrigada! O que achaste? Isa

Estrunfina disse...

É precisamente este assunto que me tem deixado doente :(

A Cathy não é Asperger, não será o caso de ter uma avaliação CIF maravilhosa e por isso perder o apoio.

Mas, ainda assim, tenho medo que o optimismo de quem o preenche ponha o caso como não muito mau e por isso vermos diminuída a carga horária do apoio (2 míseras horitas semanais e viva o luxo!)

Já agora, em relação a educadoras de NEE: a educadora do apoio da Cathy do ano passado era excelente, este ano passou para o ensino regular. Não foi por falta de vocação, mas o ME complica tanto esta área que ela acabou por se sentir mais segura lá. Foi uma pena digo eu, mas se quisermos falar em culpas, eu olho mais para o Estado e menos para as educadoras.

Mrs. Norris, obrigada pelo link, ainda não consegui ver a reportagem mas lá irei ;)

Beijinhos

. disse...

Estrumpfina, claro que a culpa é do Estado. As educadoras fazem o que podem e o que sabem. A mim se me pusessem num laboratório a descobrir a cura para uma doença, de certeza eu não conseguiria descobrir nada, pese embora a boa vontade... Das duas uma: ou formam mais pessoas nesta área ou o problema persistirá. Boa sorte para a Cathy! Bem precisamos de sorte... Beijo grande. Isa

Mrs_Noris disse...

Isa,
Acho muito bem que o Governo queira cada vez menos crianças em ambientes segregados. Eu gostava muito que um dia tivessemos uma Escola com as respostas adequadas para cada uma das crianças dos dois mundos! Mas a inclusão para funcionar terá de passar por um processo moroso que para ter algum êxito envolve também uma reforma nos professores em geral. Antes de mais é preciso fazer dos professores cidadãos mais humanos e melhor informados, só assim se tornarão agentes mais eficazes da transformação da maneira de pensar da sociedade. A Educação Especial não deve ser encarada como um sistema paralelo de educação, deve sim fazer parte da educação como um todo e a sua actuação nas escolas de ensino regular deverá ser entendida como mais um sinal de qualidade para a Escola e para o Sistema de Ensino.
Bj.

. disse...

Noris, concordo plenamente. Basta ajudar alguns professores normais a terem formação em NEE. Esse, é do meu ponto de vista, o objectivo mais premente para um mundo melhor e uma vida boa para todos sem excepção. Beijo gd. Isa

Mina disse...

Nâo queria comentar sem ver primeiro a reportagem. Como já estive no cantinho da Noris já vi.E em nada alterou aquilo que eu já poderia dizer anteriormente.È preciso sensibilidade e bom senso nestas inclusões, embora no que nos diga respeito aos SA ,e no caso do meu filho e penso que na sua maioria, não são eles que tem de se incluir ,mas a escola a inclui-los.No caso do meu filho que mudou 4 vezes de escola consoante os ciclos que frequentou.Teve quase sempre professoras de ensino especial,na pré-primária e primária (nos 2 primeiros anos), era retirado do ambiente de sala para estar no apoio , o que acaba por quebrar o ritmo.Nos 3º. e 4º. que teve a mesma professora esteve sempre incluido na turma sem necessitar de apoio extra e os resultados até foram melhores, porque esta professora apesar de não ter formação especifica em PEA, tinha formação de mãe de sindrome de Down.Acho de facto o mais importante é o gosto por aquilo que se faz, e não ir para esta profissão principalmente com objectivos meramente profissionalizantes para terem curriculum.Durante os restantes anos tbm teve professores de apoio durante uma hora semanal,por acaso não tive razão de queixa de nenhuma delas até ao 9º, ano,não estavam a debitar matéria mas mais a interagir .Só no 10º. É que já teve uma professora que fazia o” frete”, e esse foi o último ano que teve apoio.
Bjocas

Principezinho disse...

Olá,
Só vi a reportagem através do link da Mrs. Noris. Também sou da opinião que aqueles números, mesmo que sejam verdadeiros, não devem ser considerados realistas, precisamente porque a maior parte dos professores e educadores não têm formação específica. No caso do meu filho (que tem Paralisia Cerebral e ainda não está em idade escolar)é acompanhado 1hora/semana por 1 Educadora de Infância de Apoio e ela, por muito que se esforce, NÃO SABE trabalhar como deve de ser com ele, NÃO SABE o que é que há-de fazer, nem como o fazer, por muita boa-vontade e muito carinho que ela tenha por ele, simplesmente não sabe. Eu tenho percebido isto, porque nos últimos meses estou em casa com ele e ela vem cá, por isso observo. Claro que o trabalho é dificultado pela descoordenação motora que ele tem, mas como a nível cognitivo ele está equivalente a uma criança da idade dele há uma série de actividades que podiam ser feitas para o estimular mais, mas ela não tem formação.
Já que não há Professores/Educadores de Ensino Especial contratados em número suficiente, no mínimo o Min. Educação deveria dar formação adequada aos que fazem parte dos quadros, consoante as necessidades dos respectivos alunos.
Abraço

. disse...

Principezinho, no fundo, o seu caso retrata aquilo que penso. Ou é de qualidade ou não vale a pena. Tudo de bom e um beijinho. Isa