terça-feira, 13 de novembro de 2007

Para a Jane

Querida Jane, em breve perceberás porque razão te envio um recado público, em vez de um email. Cada palavra nossa, pode servir de muleta para outros, tal como também nós nos vamos segurando neste ou naquele testemunho. Cada uma das pessoas que vês nas minha modesta caixa de comentários, fizeram uma pequena grande diferença na minha vida. Numa fase não muito longínqua, foram a experiência viva em que me segurei, mesmo sem os conhecer. Foram três meses intensos, semelhantes à passagem lenta de uma eternidade, em que pensei neles, imaginei-lhes as mesmas dores, reflexões e dilemas e, depois, a forma como conseguiram adaptar-se, sem dramatismos ou sem dramatismos fatalistas. Uns mais cépticos, outros mais optimistas, outros muito bem humorados, outros ainda que, como eu, vivem nos altos baixos, cada um vai lidando como pode com este inesperado mundo dos chamados problemas de desenvolvimento.

Respondo, por aqui, às tuas questões. O meu filho não faz terapia da fala. Julgo que é o equivalente no Brasil de uma fonoaudióloga (?). O neuropediatra e a psicóloga consideraram que a escola linguística dele será o infantário, amigos e família. Ainda não recebi o relatório relativo aos testes, mas, na conversa mantida após as avaliações, não lhe foi aconselhado, para já, nem consultas de pedopsiquiatria nem qualquer outra terapia compensatória. Julgo que querem ver ainda para onde evoluirão os sinais "estranhos" dele. Querem certificar-se se se vão manter, agravar ou diluir. O menino fala cada vez mais palavrinhas, mas, salvo algumas excepções, ainda não usa a linguagem como deve ser. Na sua plenitude não a usa. Na maioria das vezes, ainda tenta levar-nos pela mão, aos sítios, o que se torna difícil de contrariar, pois fica impaciente.

Só muito raramente pede, com palavras, aquilo que quer. Ou pede a chupeta ou uma batata ou pão. Mas ainda não olhou para nós, em conversa, naquela troca efectiva de comunicação. O efeito comunicativo existe essencialmente nas brincadeiras e nos carinhos, onde, nitidamente, há cumplicidade e interacção. Quando dizes no teu testemunho que a Juju já não vos usa como ferramenta, como melhoraste essa área? Podes partilhar o que vos tem sido aconselhado para reverter os parâmetros menos "normais"?

Obrigada e um beijinho

6 comentários:

Anônimo disse...

Bom, suponho que eu estou incluída no grupo dos "muito bem humorados"! :-P
Na verdade, obrigo-me a estar. Porque me obrigo a relativizar. Sei, por experiência própria, e por estar atenta ao mundo que me rodeia, que há muito pior. Muito pior, mesmo. Eu sou uma afortunada :-)

Eis o meu testemunho prático: a terapia da fala serve, sobretudo, para estabelecer pontes de comunicação e interacção. E tem sido muito útil no caso da minha filha, que a iniciou com três anos.
Embora ela continue a não utilizar a linguagem verbal como forma de comunicação espontânea (a comunicação dela faz-se sobretudo através dos afectos, das meiguices, dos carinhos, dos beijos :-) ), ajudou-a imenso na relação com o outro, na aquisição de algumas competências sociais e no desenvolvimento de maior tolerância à frustação.
Neste momento é a única terapia que faz.
A propósito, estou cada vez mais convencida de que há que ter uma certa cautela para não andarmos de terapia em terapia: é esgotante para as crianças e é stressante para os pais que, se trabalharem, não tem horas diárias suficientes para tanta coisa! :-)
E eles são o nosso espelho, o reflexo da nossa ansiedade, do nosso stress, do nosso desequilíbrio.
E, além do mais, acho importante que ela tenha o seu tempo, o seu espaço, com ela própria. Sim. É fundamental para qualquer pessoa ter o seu espaço e o seu tempo.
:-)

Anônimo disse...

Fiquei feliz ao ver seu post, tb acredito que as experiências de outras mães ajudam muito mais do que muitos profissionais. No entanto, assim como a Maria eu acho que a terapia da fala faria uma diferença sim no desenvolvimento da linguagem do teu menino. Atualmente é o que faço, além de uma atenção especial em casa e a escolinha. E vou te contar que tomei essa decisão sozinha, fui atrás mesmo pois segui minha intuição e pensei...se bem não fizer mal tb não fará!!!! A fonoaudióloga é ótima, trabalha com várias outras crianças autistas ou com transtorno invasivo. A juju é a mais novinha e muitas mães dizem mas pq vc traz ela? e eu respondo: por prevenção!!! Acredito que uma fono vai estar mais atentas e possui técnicas que ajudam nossos pequenos. Coisas que muitas vezes desconhecemos e mais ainda as professoras de escolinha. Por exemplo, estamos estimulando muito essa questão da resposta através de brincadeiras como montar um zoológico, uma mini-cidade, etc. E vamos interagindo com ela, conversando entre os animais, bonecos...e ela progrediu muitoooo!!! Essa fono, faz tudo através de brincadeiras...mas dá de ver que tudo tem um objetivo sabe? então estou bastante confiante e vou fazer essa prevenção até quando eu sentir essa dificuldade na comunicação. Pq vc não dá uma pesquisada, marca uma entrevista...experimenta!!! Pode ser coincidência e a juju já iria despertar mas te digo nos últimos meses ela vem evoluindo a passos largos!!!
Qut a fazer com que ela parasse de nos puxar pelas mãos...só tem uma saída! Insistir para que fale...assim que falar vc levanta e vai aonde ele quiser. Então eu insistia nas palavras que ela sabia na época como: vem mamãe...só levantávamos se falasse!!! O mesmo qud queria um objeto...ficava apontando...chorando...eu não dava logo de cara..ia nomeando os outros e ela dizendo não...até chegar ao que ela queria: ai repetia pausadamente. Você quer o telefone? então fala: te-le-fo-ne..e ela repetia do seu jeito...outra coisa que ajudou foram os mini-animais ai ensinamos ela a imitar...depois foi aprendendo os nomes...o mesmo com as cores, através de muita massinha de modelar, cola colorida, guache...enfim...pegávamos o que mais despertava sua atenção e ensinava as palavrinhas. Tenha fé e persistência que logo ele irá se comunicar melhor, vc vai ver!
beijão

. disse...

Olá Maria! Sem dúvida, uma bem humorada. :) Concordo consigo no relativizar. Tem que ser assim mesmo, caso contrário teríamos uma vida desperdiçada pela frente. Hoje escrevi um post sobre as formas de se encarar a questão. Não sendo um recado para ninguém, é- o para todos nós quando, sem querer, em vez de estarmos a "ensinar" aos outros como caminhar nuns sapatos apertados, preferimos chamar-lhes "fracos" por terem feito menos quilómetros com eles do que nós. Ninguém me fez sentir isso a mim, há que sublinhá-lo. Mas por aqui e por ali, já vi pessoas a fazê-lo, generalizando, como se houvesse aqueles que sabem tudo e aqueles que armam tempestades em copos de água.

Quanto à terapia da fala, julgo que será últil por vários motivos. Vou aguardar, no entanto, o relatório e decidir-me pelo melhor. Um beijinho

Jane, é sempre muito bom ouvir sobre os avanços conseguidos e sobre a forma como foram alcançados. A terapeuta parece ajudar, sobretudo a estimular a comunicação que vai além de se dizerem correctamente as palavras. Comunicar é mais do que isso e as especialistas podem ajudar melhor do que nós. Quando escreves mais sobre a Júlia no teu blog? Vou lá muita vezes para saber novidades. Um beijinho para toda a família.


Sou como Tu

Anônimo disse...

olá. O que a Jane descreveu que a fono faz é muito semelhante ao que faz o meu pequenito, em terapia ocupacional. A terapeuta, com muita experiência nestes casos, segue a metodologia "floor time" e, posso dizer-lhe, foi fundamental para o meu filho. No inicio ele começou com terapia psicoterapeutica, com uma acentuada vertente comportamental, mas não resultou, começou a fechar-se e a nao querer colaborar, pois eram regras e mais regras. Quando procurei outras abordagens, cheguei, através de outra mãe a esta técnica e, logo no primeiro dia, o meu filho chorou quando a sessão terminou, pois queria mais. Então o que ela faz é um pouco o que a Jane descreve: vai cosntruindo situações, com lego, com carros, animais, etc e estabelece dialogos. Para acriança é uma brincadeira, porque estamos sentados no chão e vamos brincando com ela ( tente chegar à consulta da Estefânia, na Unidade de Primeira Infância, que funciona na Encarnação e que é dirigida pelo Dr. Pedro Caldeira). Comolhe digo, para o meu filho foi fundamental ter encontrado esta técnica e penso que esta abordagem, o floor time, é muito importante, direi mesmo, fundamental, em crianças tão pequenas. Agora, o meu filho já aceita as terapias mais comportamentais. Espero ter ajudado, se precisar de mais alguma coisa, diga que eu dou-lhe os constactos por mail. Beijinhos.
Maria Anjos

Anônimo disse...

olá. O que a Jane descreveu que a fono faz é muito semelhante ao que faz o meu pequenito, em terapia ocupacional. A terapeuta, com muita experiência nestes casos, segue a metodologia "floor time" e, posso dizer-lhe, foi fundamental para o meu filho. No inicio ele começou com terapia psicoterapeutica, com uma acentuada vertente comportamental, mas não resultou, começou a fechar-se e a nao querer colaborar, pois eram regras e mais regras. Quando procurei outras abordagens, cheguei, através de outra mãe a esta técnica e, logo no primeiro dia, o meu filho chorou quando a sessão terminou, pois queria mais. Então o que ela faz é um pouco o que a Jane descreve: vai cosntruindo situações, com lego, com carros, animais, etc e estabelece dialogos. Para acriança é uma brincadeira, porque estamos sentados no chão e vamos brincando com ela ( tente chegar à consulta da Estefânia, na Unidade de Primeira Infância, que funciona na Encarnação e que é dirigida pelo Dr. Pedro Caldeira). Comolhe digo, para o meu filho foi fundamental ter encontrado esta técnica e penso que esta abordagem, o floor time, é muito importante, direi mesmo, fundamental, em crianças tão pequenas. Agora, o meu filho já aceita as terapias mais comportamentais. Espero ter ajudado, se precisar de mais alguma coisa, diga que eu dou-lhe os constactos por mail. Beijinhos.
Maria Anjos

. disse...

Maria Anjos, obrigada pela dica. Vou tentar encontrar alguém que se dedique a esse "floor time" visto que, por questões geográficas, me é totalmente impossível ser seguida no D. Estefânia. A Norte, não sabe de nada, não? Alguém que recomende? Obrigada e um beijinho


Sou como Tu