sexta-feira, 4 de abril de 2008

Chibo

Devia ter escrito o post de baixo primeiro. Depois da dentada, eu quis à força toda que ele me disesse quem o tinha mordido, apesar de já saber. Perguntei-lhe vezes sem conta: "Quem te mordeu, filho?" , "Quem fez o dói-dói que tens aqui?" Nada de resposta. Olhava-me e continuava a brincar. E eu insistia, já soltando alguma frustração por ele continuar a não responder a coisas básicas que se prendem com os relatos do dia. Em silêncio costumam ficar também as respostas às perguntas "Então, hoje tiveste música? O que comeste na escola? Com quem brincaste". Já ao deitar, antes de lhe contar as "históias" que já pede insistentemente, a derradeira tentativa para que chibasse o agressor: "Quem te mordeu, filho? Foi aaaaaa...". E ele virou-se para mim e respondeu: "Foi a Sofiaaaa". Tive nesse momento a clara percepção de que o segredo, nesta fase, está na maneira como se faz a pergunta.

10 comentários:

Mrs_Noris disse...

Sem dúvida é o segredo. Essa é uma das técnicas que a terapeuta da fala do meu filho usava no início, para pô-lo a falar, e que eu também implementei. Por exemplo, ele tirava do saco uma ficha com a imagem de uma pêra e dizia: Pê-a! Eu: Boa! A pêra é para ... Ele: comê!
Mas Isa, o meu filho agora acusa todos, mesmo sem lhe perguntarem. Até faz queixas da cadela. Já lhe disse que qualquer dia fica sem amigos. Mas continua a reagir com indiferença a perguntas como “Onde foste com o pai?”, “O que fizeste de bom na escola?”. Nunca responde. Mas em contrapartida, muitas vezes conta-me coisas que se passaram sem que eu nada pergunte. Hoje mesmo quando cheguei à escola para o apanhar, disse-me, com um risinho malandro, que estava a fazer um espelho para o dia da mãe! Aposto que resolveu contar-me esta só porque a educadora lhes pediu segredo. Em casa se eu peço para levar um recado à avó ele ignora-me completamente. Mas quando eu lhe peço para não contar à avó uma coisa qualquer, é quando ele conta mesmo. O chibo!
Beijinhos.

. disse...

Lol. É preciso aprender como funcionam. O meu menino já vai dizendo as suas coisas mas nesse ponto em concreto já vi que é normal não se prender com grandes relatos. Óia mamã, tá a chuaí! (geralmente apontando alguém que chora). Mamã, o papá tá (onde está o papá?). Descreve tudo o que faz: Pocoyo e eli tem xono! Bá fioo (está frio!). Aúvar denti (lavar dentes). Ele relata o presente, não o passado. Não há palavrinha que não diga mas não "conta" coisas. Fala delas à medida que as vive. E canta afinado como um rouxinol. O bauón do xuón xobe xobe ã paaí, é fuíz o petiz a cantauaí. :D Estamos sempre a aprender como lhes driblar as falhas e o contar coisas será, então, o próximo cavalo de batalha. Isa

Anônimo disse...

Amigas,
Não vos quero desanimar mas o não fazer conversa nem contar as suas aventuras ou desventuras continua com o meu de 10 anos...
O que não significa que, totalmente fora de contexto, interrompendo seja quem for, não comece discursando a contar qualquer episódio, triste, engraçado ou sem qualquer característica.Normalmente já passado há muitos dias e sem percebermos o que despoletou aquela memória!
...é assim...
Jinhos!

. disse...

Mariamartim, não me desanima. Estou preparada para isso. Neste momento, ainda estamos tão extasiados com o facto de se fazer entender, o que torna tudo tão mais fácil sobretudo no que toca a manifestar intenções, vontades e dores, que dificilmente nos deixamos assustar. Diria que vivemos uma etapa de cada vez. O meu filho canta muito, é muitíssimo meigo, pede e dá beijos, quer partilhar tudo o que faz e já percebe tudo. Agora completa-nos tal qual como é, por ser pequenino (também é birrento q.b, sobretudo no hipermercado onde quer tudo o que vê!). Quando for maior as brechas vão fazer-se notar mais, de certeza. A mariamartim deve partilhar sempre a verdade, sem recear desiludir-nos. Estamos sempre preparados para o pior, sem deixar de acreditar no melhor. Um beijinho. Isa

Anônimo disse...

Sim, eles dizem tudo, temos é que saber perguntar.Eles sabem quem lhes fez mal e dizem o nome.Também dizem se a professora estava, quem era, se teve ginástica, ou piscina, o que foi o almoço, se comeu ou vomitou...

Saudações e um sorriso

Anônimo disse...

Olá!!!

E se assim resulta porque não? O importante é mostrar-lhe como dialogar.

Beijinhos
Maguy+Gu+Raul

. disse...

Mário, é todo um mundo novo a aprender. Não sei se alguma vez me habituarei ao facto de não poder deitar conversa fora com o meu filho. Sobre isto e sobre aquilo, como eu gosto de uma boa conversa. Não digo isto com mágoa, apenas algo desiludida pela possibilidade de nunca o vir a conhecer realmente. Sei lá se um asperger tem posições políticas e ideais. E se os tiver, será que os manifesta? Isa

. disse...

Maguy, eu e o pai estamos sempre a debater ideias e pontos de vista, talvez isso também se aprenda. Como está o menino? Beijinhos. Isa

Anônimo disse...

Olá Isa... :-)

Há já muito que não passava por aqui (trabalho que não me deixa respirar :-S ), mas hoje resolvi fazer uma visita...

Como estão os teu meninos?

Este teu post, não podia vir mais a calhar. Tive ontem uma reunião com a educadora do meu filho, e ela "queixou-se" desta mesma caracteristica nele.

Tudo o que os outros fazem, e que vai contra as regras estabelecidas, ele conta. Mas depois, muitas vezes, ele mesmo tem dificuldade em respeitar as ditas regras.

Já em casa, quando questionado sobre se teve Yoga, ou Ginástica, se comeu carne ou peixe, se fez determinado jogo ou brincou com determinado menino ou menina, ignora. Não responde. Assim como não conta nada do que se passa em casa na escola.

É hábito, na escola, à 2ªFeira, fazerem um desenho sobre o que fizeram durante o fim-de-semana. Os desenhos do meu filho são todos iguais. Representam-no a ele à porta de casa. Porque diz sempre que ficou em casa com o pai, a mãe e a mana. E di-lo em jeito de despacho, após muita insistência.

Já a questão da dentada... olha nada a fazer. Tambem o meu filho veio para casa muitas vezes marcado de dentadas e nunca se defendeu, e nunca disse que tinha sido. Claro que nós sabiamos quem era, mas ele nunca o disse. tal como tu, tambem nós desejamos tantas vezes que ele se defendesse, mas nada. Nunca o fez. Felizmente, hoje, os colegas, não fazem dele saco de porrada. Porque se o fizessem eu acho que ele não se defenderia.

Quando li o teu post sobre os comportamentos do teu menino vs. os comportamentos dos outros meninos, e todos os comentários, não pude deixar de sorrir e de pensar de como os nossos meninos são tão diferentes. A minha experiência é tão diferente da vossa. O meu filho, esconde-se atrás de nós quando intrepelado por alguém na rua (e se o aborrecem muito, responde, dou-te um murro ou algo do género). Faz birras se se sente frustado. Ou seja, por norma, reage muito mal se fora do seu ambiente. E não é uma criança muito afectiva, não gosta de contacto fisico. Para além que reage excessivamente aos sons. No entanto, é uma criança muito desenrascada e autonoma. mais que a maioria dos meninos da sua idade.

Bem... isto já vai longo (venho cá poucas vezes, mas quando o faço demoro-me muito eheheheh). Vou terminar por aqui.

Um beijo grande para todos.

. disse...

Olá Cristina, talvez eles não tenham mesmo o mínimo interesse em falar no que já viveram. É algo que nunca perceberei. O meu filho é um tagarela, está sempre a falar connosco e quer que a gente responda, pois fica à espera. Só que essas conversas nunca são sobre algo já feito ou vivido. Ele ouve e sabe o que lhe estou a perguntar, mas prefere não responder. Quanto ao contacto físico, também há muitos meninos sem Pea que não gostam. Será mais uma questão de feitio? E o meu não foge, até é abusador. Ainda anteontem estava um senhor com ar de exausto, sentado num muro, e ele disse-lhe olá umas duas ou três vezes até obter resposta. E, noutro dia, no café quis à força toda meter-se com outro senhor e punha-se à frente dele a falar. Enquanto isso, comia um chupa e babava-se todo. Tem graça enquanto é pequenino, dp não terá tanta ou nenhuma se o continuar a fazer. Vá-se lá perceber pq engraçou com aquela pessoa especificamente... Beijinhos. Isa